Certo dia, Jean-Marie Le Pen - político "de Direita" e líder da Frente Nacional Francesa - constatou que "a seleção francesa tem muitos negros". Lilian Thuram, à época zagueiro da seleção francesa, respondeu a Jean-Marie Le Pen: "Eu não sou negro. Eu sou francês". O Brasil é uma França piorada. Nossos políticos são mais ultranacionalistas que Jean-Marie Le Pen e nossos jogadores de futebol são menos racionais que Lilian Thuram.
O Brasil do PT, apoiado pela classe sindical de trabalhadores, pela classe do funcionalismo público, pela classe dos intelectuais, e pela classe dos analfabetos políticos do Facebook, tem dificuldade em aceitar que somos todos iguais. Para isso, criam essas porcarias para nos diferenciarmos: os ricos e os pobres; os reacionários e os progressistas; os brancos e os pretos; os "de Direita" e os "de Esquerda". Outro argumento comum entre todas essas classes é dizer que "o PT governa para os pobres". Se o PT governa para os pobres, temos que implodi-lo. O Governo tem que acabar amanhã. O papel do Governo não é interferir nas relações humanas, criando leis específicas para grupos ideológicos. O papel do Governo é, sobretudo, enxergar os eleitores como iguais.
Por falar nos analfabetos políticos do Facebook, os questionei sobre quem defende o Governo Dilma nos dias atuais. Um amigo meu - representante fiel desses analfabetos políticos do Facebook e dos que defendem o Governo Dilma nos dias atuais - respondeu : "O que me impressiona é ver pobre e preto apoiando um governo que não é pra ele". Ele se referia diretamente a mim. Para ele, eu sou um "pobre e preto" que votou em Aécio Neves na últimas eleições, ou seja, "em um governador que não governa para mim". Outro equívoco dessa gente é querer defender interesses que não lhes dizem respeito. Essa gente se acha no direito de reivindicar um direito o qual eu - meramente um "pobre e preto", na visão deles - não possuo. Não quero um Governo exclusivamente meu. Não quero cotas raciais, pois a humanidade não é dividida em raças. Não visto uma camisa "100% negro", pois não sou 100% negro.
Prometi que jamais voltaria a perder tempo com um governista. Mas tripudiar de um petista é moralmente aceitável. Melhor ainda é tripudiar de um petista que rema na contramão de seu próprio exercício de cidadania. Cidadão que se preza deve ir atrás de seus direitos por meio da cobrança do Governo. Meu amigo é um governista. Cidadão e governista caminham em lados diferentes. Aliás, meu amigo é um governista que enxerga política como futebol. Uma espécie de Juca Kfouri do Facebook.
Juca Kfouri, que, com seu populismo futebolístico, chegou ao ponto de intitular um grupo como "elite branca", por uma simples vaia à presidente da República. Juca Kfouri e Jean-Marie Le Pen são os exemplos inacabados de que existem imbecis tanto "na Esquerda", quanto "na Direita". Assim como Juca Kfouri estereotipou os torcedores que vaiam a presidente da República, e Jean-Marie Le Pen estereotipou os jogadores da seleção francesa, meu amigo me estereotipou como "pobre e preto".
É a hora de responder ao meu amigo: Eu não sou pobre, nem preto. Eu sou brasileiro.