quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Conversa afiada com Paulo Henrique Amorim

Segunda-feira. O programa Bom Dia Brasil, da TV Globo, entrevistou a candidata à reeleição Dilma Rousseff. Paulo Henrique Amorim repercutiu a entrevista em seu blog Conversa Afiada. Deu um título jocoso ao artigo: Mau dia: Dilma tritura a UrubólogaPaulo Henrique Amorim é fissurado por epítetos. O leitor talvez não tenha entendido o título de seu artigo, que é composto por dois gracejos: "Mau dia", em alusão ao programa Bom Dia Brasil; "a Urubóloga" é a jornalista Miriam Leitão, apresentadora do programa.

Se o programa Bom Dia Brasil entrevistou Dilma Rousseff, eu decidi entrevistar Paulo Henrique Amorim. Vasculhei em seu blog, mas não encontrei nenhum telefone por meio do qual eu pudesse entrar em contato diretamente com ele. Encaminhei a entrevista pelo campo "Fale Conosco". Tenho minhas dúvidas se será o próprio Paulo Henrique Amorim quem irá responder as questões. Tenho minhas dúvidas, ainda, se Paulo Henrique Amorim sequer irá respondê-las:

- Boa tarde, sr. Paulo Henrique Amorim. Primeiramente: por que o senhor, em seu blog, é tão fissurado por epítetos?

- Continuando no assunto. Dentre esses epítetos, estão: "Bláblárina Silva", em vez de Marina Silva; "José Cerra", em vez de José Serra; "Dudu", em vez de Eduardo Campos; "Urubóloga", em vez de Miriam Leitão. O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, no Art. 12, inciso III, diz: "O jornalista deve tratar com respeito todas as pessoas mencionadas nas informações que divulgar". O senhor, em seu blog, costuma não tratar com respeito as pessoas mencionadas nas informações que divulga. Eu poderia afirmar que o senhor está infringindo o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros?

- Na lista dos seus "homenageados", há jornalistas, há magistrados, há tucanos e há peessebistas. Curiosamente e/ou coincidentemente, nenhum petista. Por quê?

- A Caixa Econômica Federal patrocina o blog do senhor. O senhor não acha um conflito de interesses muito perigoso quando um órgão do Governo patrocina um blog que aborda política?

- O senhor espalhou pela internet que o ex-colunista de VEJA, Diogo Mainardi, "saiu do Brasil sem lhe pagar o que devia", ainda que o seu processo na Justiça contra ele tenha sido extinto. A propósito disto, o senhor já doou os R$ 30 mil acordados a uma instituição de caridade, após ser condenado na Justiça pela ofensa a Heraldo Pereira?

- O senhor tinha afinidade com Fernando Henrique Cardoso em 1998. Passou a ter afinidade com Lula de 2002 e 2006. Vem mantendo uma afinidade com Dilma Rousseff desde 2010. Numa eventual vitória de Marina Silva, podemos esperar uma aproximação entre ambos já a partir de 2015?

- Em seu blog, existe a categoria "PiG": Partido da Imprensa Golpista. O senhor considera golpistas: a TV Globo, o jornal O Globo, o jornal Folha de S. Paulo, entre outros veículos de comunicação. O jornalista Demétrio Magnoli publicou uma coluna citando textos de Mino Carta durante o Regime Militar, nos quais Mino Carta assistia com bons olhos à ação dos militares à época. Por que o senhor não considera a Revista Carta Capital, de Mino Carta, como um veículo golpista?

- Foi um grande prazer entrevistá-lo. A próxima entrevista com o senhor poderá ser pessoalmente?

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A nossa nova política

Ontem, assisti ao Horário Eleitoral pela primeira vez desde 2002. A mesma aporrinhação de sempre. Em 2002, eu tinha 10 anos. Não é a melhor idade para começar a acompanhar política, se é que existe idade. Àquela época, julgava Ciro Gomes um sujeito culto. Lula, invariavelmente, arrancava um sorriso meu. O Governo de Anthony Garotinho no Rio de Janeiro, anos antes, não me permitia levar sua campanha presidencial a sério. Só não me lembro se confundia Ciro Gomes com Lula.

Meu olhar sempre foi direcionado exclusivamente ao Governo Federal. Nutria um desprezo absoluto pelos cargos menores. Cesar Maia era prefeito do Rio de Janeiro? Nunca me interessei pelo que ele falava. Leonel Brizola disputava vaga no Senado? Nunca tentei interpretar seus sofismas. Luiz Paulo Conde era vice-governador na chapa de Rosinha Matheus? Não consigo me lembrar de nenhum engodo eleitoreiro formulado por ele nos comícios aos quais minha mãe me levava.

Em contrapartida, tenho em mente todas as colocações de Ciro Gomes, Anthony Garotinho e Lula, à época. Ciro Gomes sempre bateu no próprio peito, afirmando ser uma alternativa nova, pois nunca havia misturado política com seus interesses e suas relações pessoais. Anthony Garotinho foi o criador dos polígonos de segurança no Rio de Janeiro, projeto no qual tendas da Polícia Militar, com algumas viaturas vagabundas, eram responsáveis pela segurança da população. Lula enxergava todos os programas sociais como "uma espécie de compra de voto pelo estômago", também pretendia acabar com o Plano Real, além de falar sistematicamente em reforma agrária.

Poderia jurar que todas as posições de Ciro Gomes, Anthony Garotinho e Lula, há doze anos, seriam mantidas ontem. Sintonizei no Horário Eleitoral justamente para vê-los repetindo a ladainha de sempre e debochar de cada um deles. É uma pena que todos tenham desistido das próprias ideias. Lula, ao virar presidente, manteve tudo aquilo que era contra: todos os programas sociais, o Plano Real e o sistema agrário. Uma das principais propostas de Anthony Garotinho, atualmente, é contra o projeto das UPPs no Rio de Janeiro, ainda que o projeto das UPPs seja uma extensão um pouco menos vagabunda de seu antigo polígono de segurança. Um ano após perder as eleições presidenciais de 2002, Ciro Gomes desistiu da história de "nova política" e loteou o Ministério da Integração com seus familiares e seus apadrinhados.

O Brasil perdeu Ciro Gomes e pode ganhar Marina Silva. Desconfio que perder e ganhar não sejam os verbos corretos. Mas o fato é que Marina Silva se apresenta como a alternativa para ingressarmos na "nova política" da mesma forma que Ciro Gomes se apresentava em 2002. É um tanto estranho que nossa alternativa da "nova política" tenha participado de sua primeira eleição em 1986. É um tantinho mais estranho que nossa alternativa da "nova política" tenha sido uma das fundadoras do PT na década de 1980. O marqueteiro de Marina Silva é Diego Brandy. Ele deveria aconselhá-la a desistir dessa história de nova alternativa política. O Brasil já demonstrou diversas vezes que não dá certo com esse negócio. Outra recomendação é se abster de tentar criar a imagem de Marina Silva como um "Lula de saias". Lula é um político vagabundo como qualquer outro, capaz de prometer uma coisa hoje e fazer outra amanhã. Marina Silva precisa tentar - veja bem: tentar - se apresentar como uma política séria. Desvinculando-se da imagem de "Lula de saias", ela desvincula-se da imagem de um político vagabundo como qualquer outro.

Amanhã, voltarei a assistir ao Horário Eleitoral. Desligarei a TV imediatamente, caso nada tenha mudado na propaganda de Marina Silva. E não farei questão alguma de vê-la novamente pelos próximos doze anos.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Sair é sempre um bom negócio

Obrigaram-me a escrever sobre um tema. Onde? Na faculdade. Como opção, eu tinha: "violência"; "ser idoso no Brasil"; "segurança"; "meninos na rua"; "estudar fora do país"; "novo acordo ortográfico". Creio que os assuntos estão interligados, e, como o Brasil é deficitário em todos os pontos, não haveria escolha melhor, a não ser sair do país.

Sair do Brasil é sempre um bom negócio. Seja na questão financeira: nossa moeda tem menos valor em relação a todas as mais importantes do mercado. Seja em repercussão: o que acontece na América do Sul não tem reflexo algum mundo afora. Paulo Coelho saiu do Brasil e se tornou o escritor mais lido e conhecido do país. Se continuasse no Brasil, venderia menos livros do que o bispo Edir Macedo.

O brasileiro mais ufanista argumentará que muitos estrangeiros vislumbram morar no Brasil. Tratarei de fazer o antimarketing brasileiro. Os estrangeiros pretendem vir ao Brasil por conta das praias? Espanha e Itália têm praias belíssimas. Eles apreciam a música brasileira? Os Estados Unidos dominam o cenário musical no mundo. As mulheres brasileiras são fetiche? A atual vencedora do concurso Miss Universo é da Venezuela. Eles ainda se entusiasmam com o futebol brasileiro? Mesmo depois dos sete a um da Alemanha?!

Estar fora do Brasil, inegavelmente, também é sempre um bom negócio. Os cubanos que o digam. O Governo de Dilma Rousseff gastou aproximadamente 1 bilhão de dólares construindo portos em Cuba, além de exportar mão-de-obra cubana, desprezando os médicos brasileiros. Ignoro que Cuba seja um descalabro em matéria de liberdade de expressão e não tenha acesso ao papel higiênico e ao sabonete. Se o Brasil vive um estado de calamidade na saúde - e ele vive -, não há escolha melhor: saia do país e vá para Cuba!

Aliás, sair do Brasil é tão bom negócio, que acabei me perdendo no tema a ser abordado. O foco do texto é estudar fora do país. E as razões são óbvias para tal. Caso você cubra os olhos e escolha, aleatoriamente, um país no Globo Terrestre, este país terá a educação melhor do que a nossa. É um motivo para sair do país tão válido como qualquer outro. Se por um acaso este país não tiver a educação melhor do que a nossa, fatalmente ele será menos violento do que nós. Dificilmente se encontra um país que apresente, de forma simultânea, uma educação e uma segurança piores do que as nossas.

Sim: os meus motivos para sair do Brasil são mesquinhos. Sim: assim como os meus motivos, o Brasil é um país igualmente mesquinho. Sair é sempre um bom negócio. Ainda que você seja um Paulo Coelho ou um bispo Edir Macedo. Ainda que o destino seja Cuba.

sábado, 6 de setembro de 2014

Infelizmente, moro no Rio de Janeiro


Moro no Rio de Janeiro. Justamente por morar no Rio de Janeiro, estou escandalizado com o ranking nacional do ensino médio da rede estadual em 2013, divulgado nesta semana, baseado no Índice de Desenvolvimento de Educação Básica, o Ideb. O Rio de Janeiro subiu onze posições, chegando à terceira colocação, atrás apenas do estado de Goiás, em primeiro, e São Paulo e Rio Grande do Sul, empatados, em segundo.

Confesso que tenho uma certa dificuldade para compreender os números do Ideb. Em 2012, o Rio de Janeiro não tinha sequer uma escola entre as cem primeiras colocadas no Enem. Um ano depois, passou a ter a terceira melhor rede de ensino médio do país. Ainda em 2012, ao contrário do Rio de Janeiro, Minas Gerais registrou quatro escolas entre as dez primeiras colocadas no Enem. Agora, ambos os estados registraram a mesma nota no ranking do Ideb. Aliás, os números do Ideb apontam que a Educação do Rio de Janeiro se encontra em plena ascensão, enquanto Minas Gerais está em iminente queda. No espaço de um ano, o Rio de Janeiro de Sérgio Cabral virou exemplo de Educação e Minas Gerais de Antônio Anastasia apresentou um quadro decadente.

O Ministério da Educação havia estabelecido como meta a nota 3,3 para o ano de 2013. O Rio de Janeiro ficou com 3,6. Nenhuma notícia poderia ser pior para quem mora no Rio de Janeiro. Em 2013, o número de roubos de rua registrados na polícia do Rio de Janeiro foi de 72.451. Foram 4.761 homicídios dolosos, 146 latrocínios, 6.004 pessoas desaparecidas, 5.926 estupros e 7.222 apreensões de adolescentes. Mas nada pode ser mais danoso do que a ascensão da Educação do Rio de Janeiro. Ela atenua todos os outros problemas. Ela camufla todas as nossas deficiências.

O ministro da Educação, Henrique Paim, afirmou que o Ideb "coloca em xeque a gestão dos estados e municípios". Entendo exatamente o contrário. Entendo que o Ideb não apenas superestima a rede estadual de ensino dos estados, como também entrega de bandeja um grande panfleto eleitoreiro, às vésperas de uma eleição. O brasileiro - especialmente, o carioca - não liga se a Educação de um determinado estado está caindo. O brasileiro - especialmente, o carioca - cria um clima de oba-oba quando se depara com a ascensão da Educação. Ela é tratada como selo de qualidade de um determinado governo.

O ranking do Ideb ainda registrou que a nota de dezesseis redes públicas caíram. Curiosamente, os dezesseis estados irão manter seus governadores ou seus aliados no poder. O Rio de Janeiro, um dos nove estados cuja nota não caiu, caminha para uma mudança, com Anthony Garotinho favorito nas pesquisas. Invejo os outros dezesseis estados. Eles comprovam que a queda no ranking do Ideb lhes garante uma perspectiva de melhora para o futuro. Eles comprovam que caminhar na contramão do Rio de Janeiro é sempre um bom negócio.

Após a divulgação do ranking do Ideb, passei a ficar preocupadíssimo com a perspectiva de melhor para o futuro. A aparente ascensão da Educação do Rio de Janeiro é ruim para todos. Dormiria mais tranquilo caso tivéssemos a consciência de que o ensino dado aqui é uma porcaria. Que o ensino é ineficaz. Que o ensino precisa de uma melhora urgentemente. Teria motivos para permanecer aqui com uma relativa tranquilidade por trinta, quarenta anos. Mas, infelizmente, moro no Rio de Janeiro.