quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A nossa nova política

Ontem, assisti ao Horário Eleitoral pela primeira vez desde 2002. A mesma aporrinhação de sempre. Em 2002, eu tinha 10 anos. Não é a melhor idade para começar a acompanhar política, se é que existe idade. Àquela época, julgava Ciro Gomes um sujeito culto. Lula, invariavelmente, arrancava um sorriso meu. O Governo de Anthony Garotinho no Rio de Janeiro, anos antes, não me permitia levar sua campanha presidencial a sério. Só não me lembro se confundia Ciro Gomes com Lula.

Meu olhar sempre foi direcionado exclusivamente ao Governo Federal. Nutria um desprezo absoluto pelos cargos menores. Cesar Maia era prefeito do Rio de Janeiro? Nunca me interessei pelo que ele falava. Leonel Brizola disputava vaga no Senado? Nunca tentei interpretar seus sofismas. Luiz Paulo Conde era vice-governador na chapa de Rosinha Matheus? Não consigo me lembrar de nenhum engodo eleitoreiro formulado por ele nos comícios aos quais minha mãe me levava.

Em contrapartida, tenho em mente todas as colocações de Ciro Gomes, Anthony Garotinho e Lula, à época. Ciro Gomes sempre bateu no próprio peito, afirmando ser uma alternativa nova, pois nunca havia misturado política com seus interesses e suas relações pessoais. Anthony Garotinho foi o criador dos polígonos de segurança no Rio de Janeiro, projeto no qual tendas da Polícia Militar, com algumas viaturas vagabundas, eram responsáveis pela segurança da população. Lula enxergava todos os programas sociais como "uma espécie de compra de voto pelo estômago", também pretendia acabar com o Plano Real, além de falar sistematicamente em reforma agrária.

Poderia jurar que todas as posições de Ciro Gomes, Anthony Garotinho e Lula, há doze anos, seriam mantidas ontem. Sintonizei no Horário Eleitoral justamente para vê-los repetindo a ladainha de sempre e debochar de cada um deles. É uma pena que todos tenham desistido das próprias ideias. Lula, ao virar presidente, manteve tudo aquilo que era contra: todos os programas sociais, o Plano Real e o sistema agrário. Uma das principais propostas de Anthony Garotinho, atualmente, é contra o projeto das UPPs no Rio de Janeiro, ainda que o projeto das UPPs seja uma extensão um pouco menos vagabunda de seu antigo polígono de segurança. Um ano após perder as eleições presidenciais de 2002, Ciro Gomes desistiu da história de "nova política" e loteou o Ministério da Integração com seus familiares e seus apadrinhados.

O Brasil perdeu Ciro Gomes e pode ganhar Marina Silva. Desconfio que perder e ganhar não sejam os verbos corretos. Mas o fato é que Marina Silva se apresenta como a alternativa para ingressarmos na "nova política" da mesma forma que Ciro Gomes se apresentava em 2002. É um tanto estranho que nossa alternativa da "nova política" tenha participado de sua primeira eleição em 1986. É um tantinho mais estranho que nossa alternativa da "nova política" tenha sido uma das fundadoras do PT na década de 1980. O marqueteiro de Marina Silva é Diego Brandy. Ele deveria aconselhá-la a desistir dessa história de nova alternativa política. O Brasil já demonstrou diversas vezes que não dá certo com esse negócio. Outra recomendação é se abster de tentar criar a imagem de Marina Silva como um "Lula de saias". Lula é um político vagabundo como qualquer outro, capaz de prometer uma coisa hoje e fazer outra amanhã. Marina Silva precisa tentar - veja bem: tentar - se apresentar como uma política séria. Desvinculando-se da imagem de "Lula de saias", ela desvincula-se da imagem de um político vagabundo como qualquer outro.

Amanhã, voltarei a assistir ao Horário Eleitoral. Desligarei a TV imediatamente, caso nada tenha mudado na propaganda de Marina Silva. E não farei questão alguma de vê-la novamente pelos próximos doze anos.

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