sábado, 6 de setembro de 2014

Infelizmente, moro no Rio de Janeiro


Moro no Rio de Janeiro. Justamente por morar no Rio de Janeiro, estou escandalizado com o ranking nacional do ensino médio da rede estadual em 2013, divulgado nesta semana, baseado no Índice de Desenvolvimento de Educação Básica, o Ideb. O Rio de Janeiro subiu onze posições, chegando à terceira colocação, atrás apenas do estado de Goiás, em primeiro, e São Paulo e Rio Grande do Sul, empatados, em segundo.

Confesso que tenho uma certa dificuldade para compreender os números do Ideb. Em 2012, o Rio de Janeiro não tinha sequer uma escola entre as cem primeiras colocadas no Enem. Um ano depois, passou a ter a terceira melhor rede de ensino médio do país. Ainda em 2012, ao contrário do Rio de Janeiro, Minas Gerais registrou quatro escolas entre as dez primeiras colocadas no Enem. Agora, ambos os estados registraram a mesma nota no ranking do Ideb. Aliás, os números do Ideb apontam que a Educação do Rio de Janeiro se encontra em plena ascensão, enquanto Minas Gerais está em iminente queda. No espaço de um ano, o Rio de Janeiro de Sérgio Cabral virou exemplo de Educação e Minas Gerais de Antônio Anastasia apresentou um quadro decadente.

O Ministério da Educação havia estabelecido como meta a nota 3,3 para o ano de 2013. O Rio de Janeiro ficou com 3,6. Nenhuma notícia poderia ser pior para quem mora no Rio de Janeiro. Em 2013, o número de roubos de rua registrados na polícia do Rio de Janeiro foi de 72.451. Foram 4.761 homicídios dolosos, 146 latrocínios, 6.004 pessoas desaparecidas, 5.926 estupros e 7.222 apreensões de adolescentes. Mas nada pode ser mais danoso do que a ascensão da Educação do Rio de Janeiro. Ela atenua todos os outros problemas. Ela camufla todas as nossas deficiências.

O ministro da Educação, Henrique Paim, afirmou que o Ideb "coloca em xeque a gestão dos estados e municípios". Entendo exatamente o contrário. Entendo que o Ideb não apenas superestima a rede estadual de ensino dos estados, como também entrega de bandeja um grande panfleto eleitoreiro, às vésperas de uma eleição. O brasileiro - especialmente, o carioca - não liga se a Educação de um determinado estado está caindo. O brasileiro - especialmente, o carioca - cria um clima de oba-oba quando se depara com a ascensão da Educação. Ela é tratada como selo de qualidade de um determinado governo.

O ranking do Ideb ainda registrou que a nota de dezesseis redes públicas caíram. Curiosamente, os dezesseis estados irão manter seus governadores ou seus aliados no poder. O Rio de Janeiro, um dos nove estados cuja nota não caiu, caminha para uma mudança, com Anthony Garotinho favorito nas pesquisas. Invejo os outros dezesseis estados. Eles comprovam que a queda no ranking do Ideb lhes garante uma perspectiva de melhora para o futuro. Eles comprovam que caminhar na contramão do Rio de Janeiro é sempre um bom negócio.

Após a divulgação do ranking do Ideb, passei a ficar preocupadíssimo com a perspectiva de melhor para o futuro. A aparente ascensão da Educação do Rio de Janeiro é ruim para todos. Dormiria mais tranquilo caso tivéssemos a consciência de que o ensino dado aqui é uma porcaria. Que o ensino é ineficaz. Que o ensino precisa de uma melhora urgentemente. Teria motivos para permanecer aqui com uma relativa tranquilidade por trinta, quarenta anos. Mas, infelizmente, moro no Rio de Janeiro.

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