O lulismo dividiu o Brasil. Entre Direita e Esquerda? Entre Republicanos e Democratas? Entre ricos e pobres? Não: entre aqueles que se viram sozinhos e os defensores de causas.
Os oprimidos, até por serem oprimidos, nunca foram capazes de organizar uma linha de raciocínio comum a eles. Por consequência, apareceram os defensores de causas. Quando o PT surgiu liderado por Lula - com o discurso: "somos defensores de causas" - surgiu também o lulismo. O lulismo está acima da sigla partidária ou da ideologia política. O próprio PT, ao assumir o poder, nunca deu trela para o lulismo. O PSOL, por exemplo, é muito mais lulista. Marcelo Freixo é mais lulista que Dilma Rousseff. Jean Wyllys é mais lulista que Marta Suplicy. Chico Alencar é mais lulista que José Genoíno. Tarcísio Motta é mais lulista que o Professor Luizinho. A imprensa e as artes também estão tomadas por lulistas.
Tome-se a história. Em apenas uma medida o PT absorveu o viés lulista: ao criar o projeto Fome Zero. Os petistas queriam acabar com os programas de transferência de renda, dos quais se orgulham hoje, para instalarem o Fome Zero e se autoafirmarem o Pai do Brasil. Como eles nunca ligaram seriamente para esse negócio de classe menos favorecida, o projeto foi um retumbante fracasso. Há outros projetos petistas como o PAC, que, com Dilma Rousseff, concluiu apenas 15,8% das obras. Ou o Minha Casa, Minha Vida, que é comandado por milicianos no Rio de Janeiro.
A história também mostra que o PT entrou no poder sem um mísero projeto. O tripé macroeconômico do governo Lula? Foi mantido do governo anterior. Plano da moeda? Também mantido. Governabilidade? Igualmente mantida. A corrupção? Não somente mantida, como sutilmente aumentada. Fatalmente, ao listar as façanhas deturpadas pelos petistas, deve-se citar o Bolsa Família. Vou me abster a tentar explicar do que se trata. Copiarei as poucas linhas do projeto de Lei que o sancionou: "Programa tem por finalidade a unificação dos procedimentos de gestão e execução das ações de transferência de renda do Governo Federal, especialmente as do Bolsa Escola, do Bolsa Alimentação, do Auxílio-Gás". Todos criados por - Epa! - Fernando Henrique Cardoso. Aliás, desconfio que FHC seja mais lulista que muitos petistas. Não é preciso que meia dúzia de otários no Facebook tentem mudar a história: está lá, não pode ser reescrita. A única contribuição de Lula para o Bolsa Família foi assiná-lo, se é que ele dispõe desta habilidade.
Confesso ficar envergonhado ao ter de chegar a este ponto, detalhando um projeto de Lei atroz para o país. A colaboração histórica que o PT nos deu foi a avacalhação política, rebaixando a discussão para quem é o irresponsável pela criação de um assistencialismo o qual nos atrasou. "Bolsas" são um retrocesso. Eu as extinguiria imediatamente. É um tipo de compra de voto pelo estômago que sequer deveria ter nascido no governo FHC. Lula não somente continuou, como o transformou em plataforma de governo. Num dos debates de segundo turno, Dilma Rousseff afirmou que tirou 50 milhões de brasileiros da miséria por meio do Bolsa Família. Fazendo um calculo rápido, conclui-se que 1/4 da população do país ascendeu nos últimos quatro anos. Uma média de 12,5 milhões de pessoas ao ano, ignorando a inflação fora da meta, ignorando a recessão da economia, ignorando o crescimento irrisório do PIB. Nem Marina Silva, durante seu auge, atingiu este nível de utopia.
O fato é que não discutimos melhoras para o país. Como menos impostos, menos sindicatos, menos ministérios, menos poder aos políticos, menos verba pública - ou nenhuma verba pública - para campanhas, menos intervenção estatal - ou nenhuma intervenção estatal - na economia. Devemos, também, enxergar o PT como, de fato, ele é: como o partido que aparelhou o Estado; como o partido que desviou verbas públicas para financiar suas campanhas; como o partido que persegue jornalistas; como o partido capaz de xingar Fernando Collor em 1989 e abraçá-lo quinze anos depois; como o partido que compra blogueiros com o nosso dinheiro; como o partido incapaz de combater o terrorismo e o antissemitismo; como o partido que distribui migalhas em troca de votos.
Nada disso será possível enquanto o Bolsa Família for pauta de discussão. Nada disso será possível enquanto não soubermos nos virar sozinhos.