quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O aspecto da imagem


Samuel Beckett era um minimalista. Sou como Samuel Beckett. Sou um minimalista profissional. Como sou um minimalista profissional, minimalizarei a minha análise dos principais candidatos à presidência da República após o primeiro debate. Minimalizarei a minha análise através do aspecto da imagem. O aspecto da imagem será o meu critério para identificar se um candidato é bom ou ruim. Se é confiável ou desconfiável.

A tarefa de analisar Aécio Neves, Dilma Rousseff e Marina Silva através da imagem é das mais simples. Eles não têm muito a oferecer. Eles são exatamente como o minimalismo se apresenta pela música clássica: repetitivo, estático, em ritmos quase hipnóticos. Dos três candidatos, Aécio Neves é o mais inteligível. É o que tem a fala mais clara. Inclusive, o que tem mais currículo, ainda que os brasileiros ignorem a experiência profissional no meio político. Mas Aécio Neves fica estático, como uma música clássica, ao ser perguntado a respeito do Bolsa Família. Nenhuma ideia lhe surge. Falta-lhe coragem para enfrentar o programa social e afirmá-lo como um populismo eleitoreiro explorado pelos petistas.

Dilma Rousseff tem uma oratória pausada, em ritmo quase hipnótico, com segundos intermináveis entre uma fala e outra, que evidenciam sua dificuldade de juntar as ideias. Os analistas das obras de Samuel Beckett tinham uma enorme dificuldade para interpretá-las. Dilma Rousseff é exatamente como as obras de Samuel Beckett: seus analistas têm uma enorme dificuldade para interpretá-la. Já Marina Silva, é repetitiva e mantém uma mansidão em sua fala. Analisei sua imagem e cheguei à conclusão que ela nos provoca o mesmo sentimento que Lula. Marina Silva nos desperta uma frouxidão misericordiosa por meio da sua fisionomia, que tem um aspecto genuinamente frágil. Ela suscita nosso piedosismo. Ela aflora a característica mais danosa da cultura nacional.

Durante anos, editoras se recusavam a publicar as obras de Samuel Beckett por considerá-las vazias e cansativas. Os três principais candidatos à presidência da República são exatamente como as obras de Samuel Beckett: vazios e cansativos. Melhor seria analisar Levy Fidelix. É uma pena que ele não tenha alcançado sequer 1% das intenções de votos. O Brasil precisa aproveitar sua visão sobre violência, sobre finanças, sobre investimentos, sobre contrabando. Levy Fidelix constatou o que os três principais candidatos não foram capazes de constatar, e, se constataram, não criaram coragem para falar: que as prisões devem ser privatizadas, que a maioridade penal deve ser reduzida a dezesseis anos, que o PT quadruplicou a dívida pública, que a vulnerabilidade de nossas fronteiras permite o contrabando de armas vindo de países vizinhos.

As obras minimalistas de Samuel Beckett nunca exploraram a ideologia do autor. Assim como uma obra de Samuel Beckett, o Brasil é um país minimalizado. Assim como uma obra de Samuel Beckett, o Brasil não explora a ideologia de nossos políticos. Os brasileiros são exatamente como nossos principais candidatos à presidência da República: covardes, com dificuldades para juntar as ideias e excessivamente piedosos. Os brasileiros são exatamente como uma música clássica: repetitivos e estáticos.

E eu? Continuarei caminhando, num ritmo quase hipnótico, a fim de encontrar um candidato à presidência da República que pretenda acabar com o assistencialismo do Bolsa Família nas campanhas eleitorais.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O asterisco na Biografia

Um funcionário do Banco Santander foi demitido, após mandar uma carta aos clientes constatando o óbvio: o quadro da economia piora com Dilma Rousseff na presidência. Ao ler a notícia, fui conferir no Wikipedia se o presidente da República havia mudado e se havíamos entrado numa ditadura da noite para o dia. Sim: o Wikipedia é a minha fonte de informação. Não: não entramos numa ditadura da noite para o dia e Dilma Rousseff continuava como presidente da República.

Sempre julguei que os petistas topavam qualquer parada, menos associar a imagem do partido à da censura. É inimaginável, nos dias de hoje, uma pessoa ser demitida porque emitiu uma opinião contrária à de outra. Só consigo imaginar uma situação dessa nos tempos da Ditadura Getulista ou no período do general Médici. No entanto, quando eu me atrevo mais uma vez a duvidar do caráter moral de um petista, sou surpreendido.

O nome do funcionário demitido não foi divulgado. Mas o nome do responsável por sua demissão foi repetido exaustivamente: Lula. Há de se concordar que a pressão pela demissão foi muito bem conduzida. Na segunda-feira, Lula pediu a cabeça do funcionário. Na terça-feira, ele estava demitido. Defendendo a tese de que o funcionário se equivocou ao emitir a carta para os clientes, Lula afirmou que o Banco Santander lucra mais no Brasil do que em lugares como Nova York, Londres, Paris e Madri. Ignoro se os números de Lula estão corretos ou não. A discussão é outra. Lula passou toda a sua carreira política afirmando que seu compromisso era governar para as classes mais pobres e não para os banqueiros. Agora, ele comprovou tudo. Comprovou sua falta de moralidade e comprovou para quem ele sempre governou.

Os petistas ficaram horrorizados com a carta do funcionário. Rui Falcão, presidente do PT, classificou-a como "terrorismo eleitoral". Dilma Rousseff afirmou: "É lamentável, é inadmissível, um país não deve aceitar uma interferência de qualquer instituição". A lógica petista permite que o banqueiro Daniel Dantas doe R$ 1.500.000,00 para o partido. Mas o Banco Santander não pode emitir um comunicado visando a alternativa mais rentável para o seu cliente. Isso ultrapassa os valores éticos do partido.

Se os petistas consideraram a carta do funcionário uma afronta ao Governo Dilma, eu considerei a demissão do funcionário uma afronta à democracia. Se a imagem do Governo Lula sempre será marcada pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo, a imagem do Governo Dilma sempre será marcada pela demissão do funcionário do Banco Santander. Ainda que os brasileiros esqueçam daqui a vinte anos, eu farei questão de lembrá-los.

Agora, terminado o texto, vou conferir no Wikipedia se já foi divulgado o nome do funcionário. E se acrescentaram esse asterisco à Biografia de Dilma Rousseff.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Resenha: O mercado de notícias, de Jorge Furtado

Vinte e um de Agosto. Botafogo. Fui assistir ao documentário O mercado de notícias. No cinema, aproximadamente vinte e cinco pessoas. O local: Espaço Itaú de Cinema. A companhia é irrelevante.

O documentário transcorre intercaladamente a uma representação burlesca da peça The Staple of News, de 1625, escrita por Ben Jonson, o grande rival de William Shakespeare nos palcos londrinos. O diretor de O mercado de notícias é Jorge Furtado. No longa-metragem, debate-se a apuração jornalística, a parcialidade – ou imparcialidade – da notícia e o papel do jornalista na sociedade.

Sempre me incomodo quando alguém se põe a comentar sobre a atividade do jornalista, mesmo que este desconheça a realidade de um trabalho jornalístico. Ainda que tenha estudado jornalismo em algum momento da sua vida, Jorge Furtado faz parte dessa turma que se mete a comentar sobre a profissão sem conhecimento de causa. A partir do momento em que Jorge Furtado se propõe a questionar a forma como se faz jornalismo, ele me dá o direito de poder questionar a forma como se faz cinema no Brasil. Eu pergunto: Por que financiamento público para filmes? Eu continuo: Alguém já fez uma pesquisa para saber se o brasileiro quer ter o seu dinheiro gasto em produção nacional? Eu investigo: Será que o boicote a Fernando Collor de Mello também tem a ver com o corte de financiamento público feito às produções brasileiras à época?

Para atenuar a sua falta de conhecimento sobre o trabalho de um jornalista, Jorge Furtado cercou-se, obviamente, de jornalistas. Em O mercado de notícias, precisamente treze jornalistas foram entrevistados e comentaram, basicamente, sobre a política do jornalismo e política no jornalismo. Foram entrevistados: Bob Fernandes, Cristina Lôbo, Fernando Rodrigues, Geneton Moraes Neto, Jânio de Freitas, José Roberto de Toledo, Leandro Fortes, Luis Nassif, Maurício Dias, Mino Carta, Paulo Moreira Leite, Raimundo Pereira e Renata Lo Prete. Quanto ao fato de treze jornalistas – um número emblemático na política – serem entrevistados, é uma mera coincidência.

A ousadia de Jorge Furtado foi tanta que eu fiquei desassossegado na poltrona. Além de questionar a forma como se faz cinema no Brasil, passei a questionar os jornalistas que foram selecionados para o documentário. Sigo os questionamentos: Por que Paulo Moreira Leite foi escolhido? Por que Janio de Freitas e Mino Carta estão lá? Quem é Maurício Dias? – juro, eu não o conhecia.

Aliás, o documentário me submeteu a uma busca incessante atrás de informações dos entrevistados os quais eu não conhecia. Seguindo a ordem alfabética, o primeiro foi Bob Fernandes. É um dos fundadores da Revista Carta Capital. Atualmente, é editor-chefe do site Terra Magazine e comenta política na TV Gazeta. Além de ser coautor do livro Bora Bahêea! A História do Bahia Contada Por Quem a Viveu, da Coleção Camisa 13 – Epa! Olhem o treze de novo!

Como Bob Fernandes, Mino Carta, outro entrevistado no documentário, também é um dos fundadores da Revista Carta Capital. Luis Nassif e Maurício Dias são colunistas, também da Revista Carta Capital. Nota-se que a diversidade e a imparcialidade na escolha dos entrevistados também foram mera coincidência.

Li algumas entrevistas de Jorge Furtado. Aliás, algumas não. Li minuciosamente quatro entrevistas de Jorge Furtado: uma no portal UOL; uma na Revista Fórum; outra em O Globo; a última, em Folha de S. Paulo. Em todas as entrevistas, ele conta as razões pelas quais decidiu fazer o documentário, atribuindo a si a responsabilidade de expor os tropeços da imprensa e questionar a qualidade da informação no país. Penso que já seja pretensioso e perigoso demais colocarmos nas mãos de Alberto Dines a incumbência de "observar a imprensa", como ele mesmo propõe. Jorge Furtado é muito mais pretensioso e perigoso do que Alberto Dines. Quando ele se propõe a contestar a imprensa nas telas de cinema, lá estão sendo gastos o meu e o seu dinheiro, sem a nossa permissão.

A tarefa de Jorge Furtado não seria das mais fáceis. O simples fato de traçar um paralelo com The Staple of News o obrigava a tratar de assuntos que a peça de Ben Jonson abordara, como o financiamento de veículos de imprensa e a ética profissional, por exemplo. A abordagem de Jorge Furtado em relação a essas questões foi paupérrima. Foi preciso pinçar declarações isoladas de José Roberto de Toledo e de Fernando Rodrigues, em raros momentos de lucidez do documentário.

José Roberto de Toledo disse: "Quando se tem um banner de uma estatal em um veículo de imprensa, há um problema."

Fernando Rodrigues disse: "O governo gasta, aproximadamente, 1 bilhão e 500 milhões de reais em publicidade e propaganda. E ainda tem sempre aquela discussão, se tem que dar mais pra um veículo e menos pra outro. Não tem que dar pra ninguém!"

José Roberto de Toledo e Fernando Rodrigues estão corretíssimos. A partir do momento em que determinado jornalista ostenta o anúncio da Caixa Econômica Federal em seu Blog, ganhando o meu e o seu dinheiro, causa-me um frio na barriga. Paulo Moreira Leite discorda disso tudo. Justificando o gasto exorbitante de dinheiro público em publicidade e propaganda em veículos de imprensa, ele lembra que "governos anteriores também gastavam e a imprensa não se preocupava desse jeito". A partir desse engodo, Paulo Moreira Leite propõe que os jornalistas – que, segundo ele, se calavam com os governos anteriores – se calem agora. O sofisma de Paulo Moreira Leite recomenda uma estagnação da imprensa.

A discussão do tema poderia ser mais ampla. No entanto, Jorge Furtado, ignorando questões relevantes e que dizem respeito ao meu e ao seu dinheiro, perdeu preciosos minutos tentando provar por a+b que, durante a campanha presidencial de 2010, José Serra forjou ter sido agredido por uma bolinha de papel. São mostradas imagens de um segurança de José Serra em direção a ele e, em dado momento, a bolinha surge da direção do segurança. Em nenhum momento aparece, claramente, o segurança jogando a bolinha de papel. Simplesmente achismo. Simplesmente especulação. E, então, uma questão importante é levantada: quanto de certeza o jornalista precisa ter para se noticiar algo? Renata Lo Prete, sem titubear, respondeu: "Em princípio, 100%. Mas não é o que acontece". Obviamente, Renata Lo Prete está correta. E o próprio documentário de Jorge Furtado comprova a tese. Se o jornalista precisa de 100% de certeza para noticiar algo, o caso de José Serra e seu segurança jamais seria mencionado no documentário, pois não há 100% de certeza de que foi o segurança quem jogou a bolinha de papel.

Ao se atentar ao caso simplório de José Serra, Jorge Furtado me frustrou. Se eu estivesse ostentando um pacote de pipoca na sala do cinema, jogaria para o alto. A oportunidade era muito boa para ele aprofundar o tema. A pergunta era muito boa. Inclusive, cito-a novamente. Cito-a incansavelmente: quanto de certeza o jornalista precisa ter para se noticiar algo?

Inúmeros casos poderiam ser debatidos. Cito um: o goleiro Bruno, ex-Flamengo, foi incriminado porque, através de algumas evidências e provas subjetivas, chegou-se à conclusão de que ele foi o responsável pela morte de Eliza Samúdio. Nenhuma prova concreta. Estou longe de ser defensor do goleiro Bruno. Nem flamenguista eu sou – eles costumam defendê-lo. Mas, antes do julgamento, Bruno virou manchete em todas as capas de jornais de circulação do país. E, apenas depois, foi julgado e veio sua condenação. É discutível dizer se ele foi ou não o responsável. Obviamente, o jornal noticia aquilo que quiser. Faz parte da liberdade de expressão. Mas deve estar disposto a arcar com as consequências que isso pode lhe causar.

Há um dado muito importante, que pouca gente leva em consideração, e deveria ser um divisor de águas no modo como se faz jornalismo e o modo com que se passa a informação. Uma pesquisa da Unesco, em Janeiro deste ano, apontou que o Brasil é o oitavo colocado no ranking dos países com maior número de analfabetos adultos. Outro dado da própria Unesco revela que, dos 36 milhões de adultos analfabetos na América Latina, 38,5% são brasileiros. Os jornais brasileiros deveriam entender para quem estão noticiando e como os brasileiros recebem uma notícia. O simples fato de se estampar na capa de jornal "Goleiro Bruno é acusado de matar Eliza Samúdio" induz um país, que ostenta 38,5% de adultos analfabetos da América Latina, a crer que o goleiro Bruno é o culpado. A partir do momento em que se tem esses números assustadores de analfabetismo, a interpretação de texto por parte do leitor está absolutamente comprometida. O jornal precisa ter o máximo de cuidado para não confundir especulação com fato e vice-versa.

A sala de cinema na qual assisti ao documentário O mercado de notícias estava composta, aparentemente, pelo leitor médio. Creio que ali não havia os adultos analfabetos citados na estatística da Unesco. No entanto, quando foi apresentado o caso de José Serra, onde as suposições apontavam para uma teórica manipulação por parte do segurança, muitos riram, como se, de fato, fosse forjado. A própria abordagem do documentário induz o espectador a crer que foi o segurança de José Serra quem jogou a bolinha de papel. Repito: é simplesmente achismo, é simplesmente especulação.

Se Jorge Furtado pode se aventurar a exibir achismos e especulações despropositadas, eu me aventuro também. Talvez, o fato de José Serra ser do PSDB implique diretamente com o olhar fixo de Jorge Furtado para o tema, ignorando o caso do goleiro Bruno. Jorge Furtado, até por ser gaúcho, é o marqueteiro preferido do PT no Sul. Jorge Furtado, que dirigiu a campanha de Tarso Genro, do PT, à prefeitura de Porto Alegre. Jorge Furtado, que dirigiu a campanha de Olívio Dutra, do PT, ao governo do estado do Rio Grande do Sul. Longe de mim ventilar a hipótese de Jorge Furtado ter se apropriado de seu documentário para fazer proselitismo político e denegrir a imagem de José Serra. De minha parte, também se propagam apenas achismos e especulações.

Bolinha de papel à parte, eu me divertia verdadeiramente quando Mino Carta aparecia no documentário para comentar algo. Perguntado sobre a independência do jornalista, Mino Carta afirmou que há fatos excepcionais que impedem a imprensa de publicar algo na capa do jornal. Lembro-me de um fato excepcional, que impediu Mino Carta de publicar algo na capa de sua revista, a Revista Carta Capital. Na semana em que o Supremo Tribunal Federal decretou a prisão dos mensaleiros José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoíno, a capa da Revista Carta Capital abordava a extinção das pererecas: "Os cientistas ainda temem uma extinção em massa provocada pela ação humana. Mas há uma boa notícia: cai o ritmo de desaparecimento de espécies".

Renata Lo Prete defende que o jornalista deve dizer de qual lado está: "O fato de se dizer qual é o seu lado, é o melhor caminho para que o consumidor verifique se a notícia está manipulada ou não". Podem acusar Mino Carta de petista. Podem, ainda, dizer que a Revista Carta Capital, de Mino Carta, ignorou o maior julgamento do Supremo Tribunal Federal. Mas não se pode negar a autenticidade de Mino Carta. Ele nos demonstra, religiosamente, a cada tiragem da Revista Carta Capital, de qual lado ele está.

Como sou demasiadamente curioso, fui pesquisar quais são os patrocinadores da Revista Carta Capital. E – Epa! – me deparei com anúncio de uma estatal. José Roberto de Toledo e Fernando Rodrigues devem se horrorizar com isso. Imediatamente, cocei o meu bolso. E, em seguida, minha inocência constatou, somente a partir do que disse Renata Lo Prete, que a notícia, sim, está manipulada na Revista Carta Capital.

Outra intervenção de Mino Carta me divertiu. Quando ele, categoricamente, afirmou: "Os Barões Midiáticos acreditam que liberdade de imprensa é poder dizer aquilo que eles bem entendem, sendo verdade factual ou não". Por um momento, concordei com Mino Carta. Estranhei. E logo me dei conta de que Mino Carta, sendo dono da Revista Carta Capital, faz parte do grupo seleto de Barões Midiáticos da grande imprensa. Sendo Mino Carta um Barão Midiático e seguindo a linha de raciocínio do próprio Mino Carta, pode se afirmar que ele acredita que liberdade de imprensa é poder dizer aquilo que ele bem entende, sendo verdade factual ou não.

Mais divertido do que Mino Carta só Maurício Dias. Realmente, eu não o conhecia. E trato de fazer um mea-culpa por isso. Se políticos têm a capacidade de persuadir eleitores através de projetos sociais com viés populista, Maurício Dias tem o dom de engabelar leitores e espectadores com opiniões – também! – de viés populista. Nem Juca Kfouri consegue desbancá-lo.

Ignoro o que Cristina Lôbo e Jânio de Freitas disseram no documentário. Ignoro, igualmente, o que disseram Geneton Moraes Neto e Raimundo Pereira. Dedicarei este espaço final a analisar meticulosamente as palavras de Maurício Dias.

Maurício Dias disse: "Tudo piorou (na imprensa) a partir da ascensão do Lula. Ele não é parceiro da elite brasileira."

A partir da frase de Maurício Dias, deduz-se que a postura da imprensa caminha de acordo com o gosto da elite brasileira. Se a elite brasileira não gosta de Lula, a imprensa deve achincalhá-lo. Se a elite brasileira gosta de Lula, devemos ignorar os inúmeros e despudorados casos de corrupção de seu governo.

Ainda que por linhas tortas, Maurício Dias acertou. A imprensa, de fato, piorou com Lula. Com seu populismo rasteiro, Lula dividiu o país: os brasileiros e os antibrasileiros; os progressistas e os reacionários. A divisão foi premeditada. Através disso, Lula jogou a população contra a imprensa. Ele, Lula, seria o defensor do povo – povo leia-se: pobres. Já a imprensa, defenderia o interesse da elite. Que Lula pense assim não há o menor problema. Ele não me afeta. O problema é quando isso ganha eco na própria imprensa, a partir de jornalistas como Maurício Dias.

Devo ser justo. Não foi apenas Maurício Dias quem acertou, ainda que acidentalmente. Numa determinada passagem do documentário, Jorge Furtado afirma que Os Sertões, de Euclides da Cunha, "é o livro de não-ficção mais importante da história do Brasil". É duro concordar com Jorge Furtado. Mas ele está correto. No livro, Euclides da Cunha caracterizou os seguidores de Antônio Conselheiro como "uma gente ínfima e suspeita, avessa ao trabalho, vezada à mandria e à rapina". Na verdade, Euclides da Cunha estava caracterizando o nosso caráter nacional, que Jorge Furtado comprovou, ao analisar a bolinha de papel em José Serra, e que Mino Carta ratificou, ao se preocupar com a extinção das pererecas. A partir do momento em que Jorge Furtado citou Os Sertões, eu passei a tratar o documentário O mercado de notícias como um estudo sócio-antropológico.

Euclides da Cunha também disse que os seguidores de Antônio Conselheiro tinham uma série de "atributos que impediam a vida num meio mais adiantado e complexo". Euclides da Cunha apenas antecipou o que a Unesco sacramentou no início deste ano: que somos o oitavo colocado no ranking dos países com maior número de adultos analfabetos, que somos um país repleto de seguidores de Antônio Conselheiro e que somos incapazes de viver num meio mais adiantado e complexo.

Fim. Fecham-se as cortinas. É hora do ínfimo e suspeito Romário, que é avesso ao trabalho e acostumado à mandria, sair de cena.

sábado, 23 de agosto de 2014

Aécio vence no segundo turno‏

Candidato à presidência, o pastor Everaldo concedeu a melhor entrevista dos últimos quinze anos, na última terça-feira, no Jornal Nacional. Nem Romeu Tuma Júnior, no Roda Viva, conseguiu superá-lo. O pastor Everaldo disse: o governo do PT aparelhou o Estado. Ele disse: eu nunca precisei do Estado para vencer na vida. Ele disse: o governo do PT agravou a presença do Estado na economia. Ele disse mais: eu defendo um Estado mínimo, a começar pela exclusão de dezenove ministérios. Ele ainda disse: eu vou privatizar a Petrobras.

Privatizar a Petrobras é a nossa prioridade. Deveria encabeçar a plataforma de governo de qualquer candidato à presidência. Nos últimos anos, nada faz doer mais o nosso bolso do que a Petrobras. Nem o cinema nacional custa tão caro. Nem a nova reforma ortográfica. Nem os portos que o PT financiou em Cuba. Nem o repasse de dinheiro público para partidos financiarem suas campanhas. Nem a propaganda estatal nos blogs de jornalistas comprados pelo PT.

Marina Silva é outra candidata à presidência. Procurei reportagens sobre sua posição a respeito da Petrobras. Não se encontra nenhuma declaração. Marina Silva já falou sobre futuro: "Esse Brasil não pode ser adiado para amanhã". Já falou sobre drogas: "Nunca fumei maconha, bebi álcool ou usei daime, só Biotônico Fontoura". Já falou sobre desmatamento: "A Floresta Amazônica não pode entrar na Justiça contra os desmatadores, nós é que temos de fazer isso". Já refletiu sobre a vida: "Eu aprendi, através das novelas, a falar a palavra colher". Nada sobre a Petrobras. Até por isso, suas aspirações à presidência não assustam. Quinze minutos de entrevista do pastor Everaldo ao Jornal Nacional valem mais do que toda a biografia de Marina Silva.

O leitor mais atento se deu conta de que sequer mencionei o nome de Aécio Neves até então. Isso mesmo. Ele não precisa aparecer muito e, a princípio, não precisa falar absolutamente nada. A última pesquisa do Datafolha apontou Aécio Neves com 20% de intenção de votos e Dilma Rousseff com 36%. Para ultrapassá-la, basta que ele não diga bobagens em seu programa eleitoral e, em seguida, coloque Dilma Rousseff contra a parede nos debates. O pastor Everaldo mostrou o caminho da luz. Aécio Neves precisa fazer apenas a seguinte pergunta:

Candidata Dilma Rousseff, tendo em vista os escândalos de corrupção na Petrobras e os últimos investimentos catastróficos, a exemplo da refinaria em Pasadena, onde foram gastos US$ 360 milhões em vão, não seria mais inteligente da sua parte privatizar a Petrobras, a fim, tanto de diminuir os gastos públicos, como de aliviar o bolso dos brasileiros?

Se Dilma Rousseff negar a privatização da Petrobras, perderá votos, pois estará brigando com os fatos apresentados. Se Dilma Rousseff concordar com a privatização, perderá votos, pois estará assinando o seu atestado de incompetência. Além do mais, tendo em vista que os eleitores de Marina Silva rejeitam Dilma Rousseff assim como Dilma Rousseff rejeita a lógica com as palavras, todos migrarão para Aécio Neves.

Pronto. Aécio Neves vence no segundo turno. Derrubaremos o PT. Será a hora de virarmos a página. Logo após a vitória de Aécio Neves, será a vez de derrubarmos o PSDB.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Generalizações e lugares comuns

Sidney Rezende escreveu um artigo intitulado Os jornalistas precisam aprender a ouvir. O título acaba por ser um tiro no próprio pé: Sidney Rezende é jornalista. Se os jornalistas precisam aprender a ouvir, consequentemente, Sidney Rezende também precisa aprender a ouvir.

O artigo de Sidney Rezende contém várias generalizações que não fazem o menor sentido. Sidney Rezende consegue se colocar num pedestal, distante das críticas e distante, inclusive, do jornalismo. Um desavisado qualquer que leia seu artigo não imaginará que ele seja um integrante da profissão.

Confesso que nunca havia me interessado pelo que Sidney Rezende escreve. A faculdade me obrigou a isso. Fui obrigado a ler diversos artigos de Sidney Rezende. Foi tanto Sidney Rezende que acabei enjoando dele. Enjoei do seu viés populista: "O problema de não sabermos ouvir as ruas está nos empurrando para o descrédito"; enjoei de seus lugares comuns: "Jornalismo deve informar tudo o que é pertinente ao fato, não existe neutralidade, e, sim, isenção"; enjoei de suas generalizações baratas: "As redações que outrora abrigavam o pluralismo da sociedade hoje são redutos da velha direita". Ele foi além: se arriscou a dizer que "as novas gerações de profissionais do jornalismo não sabem a diferença entre o que faz um deputado e um senador".

O maior problema do artigo de Sidney Rezende foi não ter dado nome aos bois. Quando afirma que "o jornalismo tornou-se partido político", não sei se Sidney Rezende está se referindo a Mino Carta, que é o porta-voz do PT na imprensa. Quando afirma que "o jornalista torna-se notícia", não sei se Sidney Rezende está se referindo a Paulo Henrique Amorim, que estampou capas de jornais após ser condenado judicialmente por injúria racial a Heraldo Pereira.

O problema de ler tantos artigos de Sidney Rezende é que eu me apeguei a fazer generalizações e a cair em lugares comuns também. A partir de hoje, dedicarei meu tempo a pesquisar a diferença entre o que faz um deputado e um senador. E propagarei meu desejo de que as redações voltem a abrigar o pluralismo da sociedade, seguindo o exemplo de um jornalista de esquerda como Paulo Henrique Amorim.

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Cards, previsões, privadas

Admito que a falta de assuntos me impeça de produzir textos mais elaborados. Para mim, o expediente mais prazeroso possível é falar mal do Governo. Acredito que a única certeza que devemos ter na vida é de que todo político é vagabundo e quer roubar o nosso dinheiro. É o único antídoto que criamos para diminuir a corrupção. Essa é a única coisa que sei fazer. É o meu deleite. Mas, atualmente, quem fala mal do Governo é execrado em público como "coxinha", "reacionário", "conservador", "elitista". Como sou demasiadamente medroso de ser execrado em público, ignorarei as façanhas do Governo, como, por exemplo, o deputado André Vargas, que usava sua influência política para favorecer o doleiro Alberto Youssef, preso numa operação da Polícia Federal.

Acessei as notícias mais lidas do site de Folha de S. Paulo para me ajudar na árdua tarefa de ignorar as façanhas do Governo. Lá estavam: "Alunos do Ciência sem Fronteiras foram orientados a racionar alimentos"; "Garoto é único brasileiro campeão mundial de cards de Pokémon"; "Dilma é vaiada em MG, no 1º evento após PT reafirmar sua candidatura"; "Vidente Mãe Dináh morre em São Paulo"; "Torcedor morre atingido por privada arremessada de estádio no Recife". Ignoro os alunos do Ciência sem Fronteiras. Ignoro, igualmente, Dilma Rousseff. A partir de agora, minha dedicação será voltada exclusivamente para entender cards de Pokémon, privadas arremessadas em estádios e vasculhar a biografia da Vidente Mãe Dináh.

Eu desconhecia a biografia da Vidente Mãe Dináh. No início do ano 1994, ela disse que Ayrton Senna seria campeão mundial de Fórmula-1. Ayrton Senna morreu em 1º de maio daquele ano. Mãe Dináh morreu em 2 de maio desse ano. Ironias do destino. Se Henry David Thoreau antecipou métodos de ecologia e ambientalismo, Mãe Dináh antecipou a morte do grupo Mamonas Assassinas, em 1996. Convenhamos, a história de Mãe Dináh é um assunto muito mais interessante do que os alunos do Ciência sem Fronteiras e Dilma Rousseff. Ela me remete a Chico Xavier. Ela me remete a Henry David Thoreau.

A propósito, hoje em dia, Henry David Thoreau seria execrado em público. Em seu melhor ensaio, A Desobediência Civil, ele debocha do estado, do exército, da polícia e dos pagadores de impostos. Henry David Thoreau é a personificação do "coxinha". Sorte nossa e dele não ter sido nosso contemporâneo. Atualmente, um "coxinha" como ele seria incapaz de propagar seus conceitos e de ajudar Mahatma Gandhi no movimento de independência da Índia.

Na contramão dos pensamentos de Henry David Thoreau, acreditamos que nosso real problema não seja o Governo e, sim, quem o critica. Então, aplaudam-me! Eu descobri o antídoto para acabar com os "coxinhas", os "reacionários", os "conservadores" e os "elitistas". É falando sobre cards, previsões e privadas.

Atear fogo, atear fogo, atear fogo

Gregório Duvivier é humorista. Tem uma coluna em Folha de S. Paulo. Em todos os seus textos, tenta mesclar humor com política, tarefa não tão simples. Lamento que seu talento de humorista sobressaia ao talento de analista político.

Melhor como analista político - e não humorista - do que Gregório Duvivier é Louis de Pointe du Lac. Sim: o vampiro interpretado por Brad Pitt em Entrevista com o Vampiro. Involuntariamente, Louis de Pointe du Lac criou uma tática infalível para acabar com qualquer obstáculo que lhe perturbasse o sono: atear fogo. Louis de Pointe du Lac ateia fogo à sua mansão, onde alojava seus escravos, por considerar que o local "estava amaldiçoado". Ateou fogo também nos caixões dos vampiros que mataram sua amiga vampira Cláudia.

No ano passado, em São Paulo, a exemplo de Louis de Pointe du Lac, os Black Blocs atearam fogo a um carro da Rede Record, durante as manifestações contra o aumento da passagem de ônibus. Outros dois carros foram queimados durante a manifestação contra o Instituto Royal, que usara cães da raça Beagle em testes: um carro da Polícia Militar e outro de uma afiliada da Rede Globo.

Ainda a exemplo de Louis de Pointe du Lac, os resultados foram os esperados: a passagem de ônibus, que havia sido aumentada, foi reduzida, ainda que seis meses depois tenha sido aumentada novamente; e o Instituto Royal, em um comunicado público, informou a decisão de interromper definitivamente as atividades de pesquisa em animais, realizadas em seu laboratório de São Roque, mesmo que fosse licenciado para praticar tal pesquisa, que, aliás, era o único a realizar testes pré-clínicos para desenvolver medicamentos para o tratamento de doenças como diabetes, câncer, epilepsia e hipertensão.

Em esquetes, o Grupo Porta dos Fundos, do qual Gregório Duvivier faz parte, já reconstituiu Adão e Eva no Paraíso, um diálogo de Jesus com seus pais e a Arca de Noé. Em ordem de importância, acredito que a próxima esquete deverá ser sobre as manifestações em São Paulo. Espero ver o Grupo Porta dos Fundos zombando da Rede Record, da Polícia Militar e da afiliada da Rede Globo, que tiveram seus carros queimados por meia dúzia de manifestantes responsáveis e dedicados aos seus ideais.

Em relação às colunas de Gregório Duvivier na Folha de S. Paulo, pode deixar: eu mesmo atearei fogo.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Língua Portuguesa em todos os períodos

A última pesquisa da "Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura" - a Unesco -, em Janeiro deste ano, apontou que o Brasil é o oitavo colocado no ranking dos países com maior número de analfabetos adultos. Outro dado da própria Unesco revela que, dos 36 milhões de adultos analfabetos na América Latina, 38,5% são brasileiros. Levando-se em consideração esses números, não há muito o que contestar sobre a Língua Portuguesa ser ensinada em todos os períodos da universidade. Seja qual for o curso.

Defendo a tese de que não tão somente disciplinas ligadas ao uso da escrita sejam necessárias o exercício da Língua Portuguesa. Na Matemática, por exemplo, uma disciplina na qual números e cálculos são predominantes, o aluno precisa de um mínimo de noção de interpretação de texto para se efetuar uma questão. Um aluno de Direito, ao escrever uma defesa, necessita elaborar um texto que tenha uma capacidade de convencer, saber argumentar, concatenando as ideias, e, sobretudo, fazer um texto coerente.

Por outro lado, há quem diga que o fato de se ensinar a Língua Portuguesa em um curso de ciências exatas, por exemplo, possa embaralhar o entendimento do aluno. Atrevo-me a dizer que os únicos temas que possam embaralhar nosso entendimento sejam coisas elementares de nossa própria cultura. Nada pode ser mais danoso ao país do que o vocabulário do hino nacional. O hino é rebuscado demais para um país que abriga 38,5% dos analfabetos adultos da América Latina. Basta que se faça uma rápida pesquisa em qualquer universidade sobre as adjetivações do hino para detectar que não entendemos nada do que se trata. Questiono-me se um aluno do oitavo período de medicina saiba o que são "raios fúlgidos"; se um aluno do quinto período de Educação Física saiba definir um "impávido colosso"; se um professor do curso de Gastronomia saiba o que é uma "clava forte".

O fato é que não debatemos a possibilidade de se ensinar a Língua Portuguesa em todos os períodos da universidade. E, caso já tenha se discutido em alguma ocasião, nenhum argumento relevante foi apresentado. Portanto, o único elemento concreto que tiramos desse tema é que a República do Congo tem menos analfabetos adultos do que nós.