sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Cards, previsões, privadas

Admito que a falta de assuntos me impeça de produzir textos mais elaborados. Para mim, o expediente mais prazeroso possível é falar mal do Governo. Acredito que a única certeza que devemos ter na vida é de que todo político é vagabundo e quer roubar o nosso dinheiro. É o único antídoto que criamos para diminuir a corrupção. Essa é a única coisa que sei fazer. É o meu deleite. Mas, atualmente, quem fala mal do Governo é execrado em público como "coxinha", "reacionário", "conservador", "elitista". Como sou demasiadamente medroso de ser execrado em público, ignorarei as façanhas do Governo, como, por exemplo, o deputado André Vargas, que usava sua influência política para favorecer o doleiro Alberto Youssef, preso numa operação da Polícia Federal.

Acessei as notícias mais lidas do site de Folha de S. Paulo para me ajudar na árdua tarefa de ignorar as façanhas do Governo. Lá estavam: "Alunos do Ciência sem Fronteiras foram orientados a racionar alimentos"; "Garoto é único brasileiro campeão mundial de cards de Pokémon"; "Dilma é vaiada em MG, no 1º evento após PT reafirmar sua candidatura"; "Vidente Mãe Dináh morre em São Paulo"; "Torcedor morre atingido por privada arremessada de estádio no Recife". Ignoro os alunos do Ciência sem Fronteiras. Ignoro, igualmente, Dilma Rousseff. A partir de agora, minha dedicação será voltada exclusivamente para entender cards de Pokémon, privadas arremessadas em estádios e vasculhar a biografia da Vidente Mãe Dináh.

Eu desconhecia a biografia da Vidente Mãe Dináh. No início do ano 1994, ela disse que Ayrton Senna seria campeão mundial de Fórmula-1. Ayrton Senna morreu em 1º de maio daquele ano. Mãe Dináh morreu em 2 de maio desse ano. Ironias do destino. Se Henry David Thoreau antecipou métodos de ecologia e ambientalismo, Mãe Dináh antecipou a morte do grupo Mamonas Assassinas, em 1996. Convenhamos, a história de Mãe Dináh é um assunto muito mais interessante do que os alunos do Ciência sem Fronteiras e Dilma Rousseff. Ela me remete a Chico Xavier. Ela me remete a Henry David Thoreau.

A propósito, hoje em dia, Henry David Thoreau seria execrado em público. Em seu melhor ensaio, A Desobediência Civil, ele debocha do estado, do exército, da polícia e dos pagadores de impostos. Henry David Thoreau é a personificação do "coxinha". Sorte nossa e dele não ter sido nosso contemporâneo. Atualmente, um "coxinha" como ele seria incapaz de propagar seus conceitos e de ajudar Mahatma Gandhi no movimento de independência da Índia.

Na contramão dos pensamentos de Henry David Thoreau, acreditamos que nosso real problema não seja o Governo e, sim, quem o critica. Então, aplaudam-me! Eu descobri o antídoto para acabar com os "coxinhas", os "reacionários", os "conservadores" e os "elitistas". É falando sobre cards, previsões e privadas.

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