quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O asterisco na Biografia

Um funcionário do Banco Santander foi demitido, após mandar uma carta aos clientes constatando o óbvio: o quadro da economia piora com Dilma Rousseff na presidência. Ao ler a notícia, fui conferir no Wikipedia se o presidente da República havia mudado e se havíamos entrado numa ditadura da noite para o dia. Sim: o Wikipedia é a minha fonte de informação. Não: não entramos numa ditadura da noite para o dia e Dilma Rousseff continuava como presidente da República.

Sempre julguei que os petistas topavam qualquer parada, menos associar a imagem do partido à da censura. É inimaginável, nos dias de hoje, uma pessoa ser demitida porque emitiu uma opinião contrária à de outra. Só consigo imaginar uma situação dessa nos tempos da Ditadura Getulista ou no período do general Médici. No entanto, quando eu me atrevo mais uma vez a duvidar do caráter moral de um petista, sou surpreendido.

O nome do funcionário demitido não foi divulgado. Mas o nome do responsável por sua demissão foi repetido exaustivamente: Lula. Há de se concordar que a pressão pela demissão foi muito bem conduzida. Na segunda-feira, Lula pediu a cabeça do funcionário. Na terça-feira, ele estava demitido. Defendendo a tese de que o funcionário se equivocou ao emitir a carta para os clientes, Lula afirmou que o Banco Santander lucra mais no Brasil do que em lugares como Nova York, Londres, Paris e Madri. Ignoro se os números de Lula estão corretos ou não. A discussão é outra. Lula passou toda a sua carreira política afirmando que seu compromisso era governar para as classes mais pobres e não para os banqueiros. Agora, ele comprovou tudo. Comprovou sua falta de moralidade e comprovou para quem ele sempre governou.

Os petistas ficaram horrorizados com a carta do funcionário. Rui Falcão, presidente do PT, classificou-a como "terrorismo eleitoral". Dilma Rousseff afirmou: "É lamentável, é inadmissível, um país não deve aceitar uma interferência de qualquer instituição". A lógica petista permite que o banqueiro Daniel Dantas doe R$ 1.500.000,00 para o partido. Mas o Banco Santander não pode emitir um comunicado visando a alternativa mais rentável para o seu cliente. Isso ultrapassa os valores éticos do partido.

Se os petistas consideraram a carta do funcionário uma afronta ao Governo Dilma, eu considerei a demissão do funcionário uma afronta à democracia. Se a imagem do Governo Lula sempre será marcada pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo, a imagem do Governo Dilma sempre será marcada pela demissão do funcionário do Banco Santander. Ainda que os brasileiros esqueçam daqui a vinte anos, eu farei questão de lembrá-los.

Agora, terminado o texto, vou conferir no Wikipedia se já foi divulgado o nome do funcionário. E se acrescentaram esse asterisco à Biografia de Dilma Rousseff.

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