A última pesquisa da "Organização das Nações Unidas para a Educação, a
Ciência e a Cultura" - a Unesco -, em Janeiro deste ano, apontou que
o Brasil é o oitavo colocado no ranking dos países com maior número de
analfabetos adultos. Outro dado da própria Unesco revela que, dos 36 milhões de
adultos analfabetos na América Latina, 38,5% são brasileiros. Levando-se
em consideração esses números, não há muito o que contestar sobre a Língua
Portuguesa ser ensinada em todos os períodos da universidade. Seja qual for o
curso.
Defendo a tese de que não tão somente disciplinas
ligadas ao uso da escrita sejam necessárias o exercício da Língua Portuguesa.
Na Matemática, por exemplo, uma disciplina na qual números e cálculos são
predominantes, o aluno precisa de um mínimo de noção de interpretação de texto
para se efetuar uma questão. Um aluno de Direito, ao escrever uma defesa,
necessita elaborar um texto que tenha uma capacidade de convencer, saber
argumentar, concatenando as ideias, e, sobretudo, fazer um texto coerente.
Por outro lado, há quem diga que o fato de se
ensinar a Língua Portuguesa em um curso de ciências exatas, por exemplo, possa
embaralhar o entendimento do aluno. Atrevo-me a dizer que os únicos temas que
possam embaralhar nosso entendimento sejam coisas elementares de nossa própria
cultura. Nada pode ser mais danoso ao país do que o vocabulário do hino
nacional. O hino é rebuscado demais para um país que abriga 38,5% dos
analfabetos adultos da América Latina. Basta que se faça uma rápida pesquisa em
qualquer universidade sobre as adjetivações do hino para detectar que não
entendemos nada do que se trata. Questiono-me se um aluno do oitavo período de
medicina saiba o que são "raios fúlgidos"; se um aluno do quinto
período de Educação Física saiba definir um "impávido colosso"; se um
professor do curso de Gastronomia saiba o que é uma "clava forte".
O fato é que não debatemos a possibilidade de se
ensinar a Língua Portuguesa em todos os períodos da universidade. E, caso já
tenha se discutido em alguma ocasião, nenhum argumento relevante foi
apresentado. Portanto, o único elemento concreto que tiramos desse tema é que a
República do Congo tem menos analfabetos adultos do que nós.
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