terça-feira, 11 de novembro de 2014

Sobre negros

Segunda-feira. A faculdade é Unisuam. O debate é sobre racismo na mídia, ainda que tenha se falado, majoritariamente, sobre "cotas raciais" em universidades. É a primeira e última vez que comento sobre racismo. Primeiro, pois: nós, brasileiros, não estamos preparados para ouvir opinião contrária à nossa. Segundo: uma discussão sobre negros suscita apenas o preconceito contra negros e o preconceito a favor de negros. Preconceito contra negros é ditado por uma ignorância genuína. A noção de uma cor superior à outra não tem base científica ou lógica. Preconceito a favor de negros é ditado pela ideologia. Aliás, a ideologia é o maior empecilho para que se trate do assunto "negros" no Brasil. Não temos maturidade. Nossa tônica é a de adequar nosso pensamento à nossa ideologia, isto é, nosso ponto de partida não é o embasamento em fatos ou a partir da História da humanidade. Somos alavancados a pensar a partir de um vício ideológico.

É um tanto estranho que, num debate de três horas sobre negros, ninguém tenha citado a figura do principal líder da Comunidade Quilombola dos Palmares: Zumbi dos Palmares. Mais estranho é justificar, como justificou Ludimila de Souza Cruz - uma das debatedoras -, que "cotas raciais são uma dívida com a sociedade negra".

A fonte é o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil:

Zumbi, o maior herói negro do Brasil, o homem cuja data de morte se comemora em muitas cidades do país o Dia da Consciência Negra, mandava capturar escravos de fazendas vizinhas para que eles trabalhassem forçados no Quilombo dos Palmares. Também sequestrava mulheres, raras nas primeiras décadas do Brasil, e executava aqueles que quisessem fugir do quilombo.

Tendo como base o raciocínio de Ludimila de Souza Cruz, que os descendentes daqueles que escravizavam têm uma dívida a pagar aos escravizados, é correto afirmar que um descendente de Zumbi dos Palmares - ou seja, um negro - tenha uma "dívida com a sociedade negra". O mesmo serve para os descendentes de José Francisco dos Santos, o "Zé Alfaiate", ex-escravo que negociava africanos em Salvador e no Rio de Janeiro. Quem mais? Bárbara Gomes de Abreu e Lima era negra, dona de um casarão e tinha sete escravos, assim como a angolana Isabel Pinheira. Quem mais? Os historiadores Francisco Vidal Luna e Herbert Klen registraram que, em Sabará, Minas Gerais, "havia mais mulheres negras e pardas donas de escravos que senhoras brancas". Numa breve busca em o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil é possível citar outros exemplos. A conta de negros contra negros não fecha.

O próprio conceito de "cota racial", ao qual Ludimila de Souza Cruz se refere, é furado. Pior: ele pode ser justificado com base em nosso Dicionário. Cito-o: "Negro. De cor escura; muito escuro; preto; que pertence à raça negra; (...)". Subdividir a humanidade em raças é, igualmente, um erro. Negros deveriam unificar seus discursos, afirmando e uniformizando a raça humana e condicionando todos ao mesmo parentesco. A visão deve ser elementar e simplista: somos macacões que evoluíram um tantinho e aprenderam a falar; não devemos nos levar a sério a ponto de nos acharmos um superior ou inferior ao outro. William Reis, integrante do grupo AfroReggae, afirmou que "tinha a cabeça fechada, contra cotas raciais; e agora abriu a mente e é a favor das cotas". Antes, ele achava um absurdo alguém defender uma opinião a favor das cotas. Agora, ele acha um absurdo alguém defender uma opinião contra as cotas. Continua desprezando a opinião contrária à sua. Continua cabeça fechada.

Ainda sobre "cotas raciais", houve quem achasse na plateia do debate - seguida de aplausos - que aquele estudante que tem condição para pagar uma universidade particular não tivesse o direito de tentar ingressar numa universidade pública. É um tantinho irônico você ter essa opinião sendo estudante de - Epa! - uma universidade particular. Ou seja, o raciocínio propõe extinguir o próprio conceito de universidade pública, restringindo-a a um grupo seleto de pobres. Melhor que discutir achismos seria pautar-se de fatos concretos e que dizem respeito à proposta do debate. Quer um fato concreto? Paulo Henrique Amorim, jornalista da Rede Record e blogueiro, foi condenado por "injúria racial" a Heraldo Pereira, jornalista da Rede Globo. Paulo Henrique Amorim afirmou que "Heraldo Pereira era um negro de alma branca" e "que não conseguiu revelar nenhum atributo para fazer tanto sucesso, além de ser negro e de origem humilde". Sim: um caso de racismo na mídia. Sim: um caso de racismo na mídia que não foi abordado em um debate sobre racismo na mídia. Foi dado espaço para outros assuntos relevantes, como o questionamento de piadas no Zorra Total, programa de humor que tem como único objetivo - vejam só! - fazer piadas.

O caso de Heraldo Pereira deveria ter sido explorado do primeiro ao último minuto do debate. Não foi explorado porque ninguém tem conhecimento do caso. Porque nenhum movimento social de políticas afirmativas nunca se manifestou. Porque nenhum artista descolado escreveu um artigo, nenhum sindicato fez barulheira, nenhuma Ludimila de Souza Cruz esperneou, tampouco o grupo AfroReggae tocou atabaque em forma de protesto. O caso de Heraldo Pereira esbarra na questão ideológica. Heraldo Pereira, um negro e um jornalista de destaque na Rede Globo, não estampa a agenda dessa gente. Conforme deixado claro na palestra, o objetivo é sempre ir de encontro aos "negros oprimidos", personificando-os como vítimas da sociedade, assim, estereotipando os próprios negros à esta condição. Eu aboliria este discurso de coitadismo. Aboliria o sistema de "cotas raciais". Negros passaram a vida inteira buscando ser tratados de forma igual aos brancos. Cotas estimulam exatamente o contrário: que o negro continue a ser tratado de forma diferenciada. Aboliria o Dia da Consciência Negra, comemorado em 20 de Novembro, data de morte de Zumbi dos Palmares, o negro que escravizou negros. Aboliria a ideia de enaltecer o debate ideológico no Brasil. E, caso sobrasse tempo, institucionalizaria o Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil como livro didático nas escolas públicas. Agora, chega. Não discuto mais sobre o assunto.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Dependentes do lulismo

O lulismo dividiu o Brasil. Entre Direita e Esquerda? Entre Republicanos e Democratas? Entre ricos e pobres? Não: entre aqueles que se viram sozinhos e os defensores de causas.

Os oprimidos, até por serem oprimidos, nunca foram capazes de organizar uma linha de raciocínio comum a eles. Por consequência, apareceram os defensores de causas. Quando o PT surgiu liderado por Lula - com o discurso: "somos defensores de causas" - surgiu também o lulismo. O lulismo está acima da sigla partidária ou da ideologia política. O próprio PT, ao assumir o poder, nunca deu trela para o lulismo. O PSOL, por exemplo, é muito mais lulista. Marcelo Freixo é mais lulista que Dilma Rousseff. Jean Wyllys é mais lulista que Marta Suplicy. Chico Alencar é mais lulista que José Genoíno. Tarcísio Motta é mais lulista que o Professor Luizinho. A imprensa e as artes também estão tomadas por lulistas.

Tome-se a história. Em apenas uma medida o PT absorveu o viés lulista: ao criar o projeto Fome Zero. Os petistas queriam acabar com os programas de transferência de renda, dos quais se orgulham hoje, para instalarem o Fome Zero e se autoafirmarem o Pai do Brasil. Como eles nunca ligaram seriamente para esse negócio de classe menos favorecida, o projeto foi um retumbante fracasso. Há outros projetos petistas como o PAC, que, com Dilma Rousseff, concluiu apenas 15,8% das obras. Ou o Minha Casa, Minha Vida, que é comandado por milicianos no Rio de Janeiro.

A história também mostra que o PT entrou no poder sem um mísero projeto. O tripé macroeconômico do governo Lula? Foi mantido do governo anterior. Plano da moeda? Também mantido. Governabilidade? Igualmente mantida. A corrupção? Não somente mantida, como sutilmente aumentada. Fatalmente, ao listar as façanhas deturpadas pelos petistas, deve-se citar o Bolsa Família. Vou me abster a tentar explicar do que se trata. Copiarei as poucas linhas do projeto de Lei que o sancionou: "Programa tem por finalidade a unificação dos procedimentos de gestão e execução das ações de transferência de renda do Governo Federal, especialmente as do Bolsa Escola, do Bolsa Alimentação, do Auxílio-Gás". Todos criados por - Epa! - Fernando Henrique Cardoso. Aliás, desconfio que FHC seja mais lulista que muitos petistas. Não é preciso que meia dúzia de otários no Facebook tentem mudar a história: está lá, não pode ser reescrita. A única contribuição de Lula para o Bolsa Família foi assiná-lo, se é que ele dispõe desta habilidade.

Confesso ficar envergonhado ao ter de chegar a este ponto, detalhando um projeto de Lei atroz para o país. A colaboração histórica que o PT nos deu foi a avacalhação política, rebaixando a discussão para quem é o irresponsável pela criação de um assistencialismo o qual nos atrasou. "Bolsas" são um retrocesso. Eu as extinguiria imediatamente. É um tipo de compra de voto pelo estômago que sequer deveria ter nascido no governo FHC. Lula não somente continuou, como o transformou em plataforma de governo. Num dos debates de segundo turno, Dilma Rousseff afirmou que tirou 50 milhões de brasileiros da miséria por meio do Bolsa Família. Fazendo um calculo rápido, conclui-se que 1/4 da população do país ascendeu nos últimos quatro anos. Uma média de 12,5 milhões de pessoas ao ano, ignorando a inflação fora da meta, ignorando a recessão da economia, ignorando o crescimento irrisório do PIB. Nem Marina Silva, durante seu auge, atingiu este nível de utopia.

O fato é que não discutimos melhoras para o país. Como menos impostos, menos sindicatos, menos ministérios, menos poder aos políticos, menos verba pública - ou nenhuma verba pública - para campanhas, menos intervenção estatal - ou nenhuma intervenção estatal - na economia. Devemos, também, enxergar o PT como, de fato, ele é: como o partido que aparelhou o Estado; como o partido que desviou verbas públicas para financiar suas campanhas; como o partido que persegue jornalistas; como o partido capaz de xingar Fernando Collor em 1989 e abraçá-lo quinze anos depois; como o partido que compra blogueiros com o nosso dinheiro; como o partido incapaz de combater o terrorismo e o antissemitismo; como o partido que distribui migalhas em troca de votos.

Nada disso será possível enquanto o Bolsa Família for pauta de discussão. Nada disso será possível enquanto não soubermos nos virar sozinhos.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Pedi o impeachment de Dilma

Site de VEJA. Está lá, em um especial online intitulado A crise no governo Lula: "Quem pode pedir o impedimento de um presidente? Representantes da sociedade civil ou os próprios parlamentares." Imediatamente, procurei um representante da sociedade civil. Deputado é um representante da sociedade civil? Aceito. Quanto menos trabalho eu tiver, melhor.

Na última segunda-feira, encaminhei à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro um pedido de impeachment de Dilma Rousseff. Precisamente, por intermédio do site da Assembleia. Precisamente, à deputada estadual Cidinha Campos, ignorando que ela seja aliada de Dilma Rousseff. Cidinha Campos é uma das frentes na luta pelo direito do consumidor. Eu, como consumidor, cansei de Dilma Rousseff. Ela não se sustenta mais no governo. Seu governo acabou. Quanto tempo falta para o ano acabar? Dois meses? Prefiro ser governado durante dois meses por Michel Temer. Ele é menos dissimulado do que Dilma Rousseff. Presidente deve ser tratado assim. Roubou? Seus apaniguados aparelharam o Estado? Qualquer cidadão tem o direito de pedir o fim de seu mandato. Nosso país é tão desgraçado que consegue escancarar um lado ruim na democracia, que é a possibilidade de um iletrado ou uma criatura completamente inepta se tornar presidente da República. Em contrapartida, a democracia se confirma como o melhor sistema, por permitir expulsá-los da presidência com a mesma facilidade.

Dentre os pensadores, ninguém melhor do que Henry David Thoreau para expulsar um político do cargo. Ele começa o seu melhor ensaio, A Desobediência Civil, com a frase: "O melhor governo é o que governa menos". Ele continua: "O melhor governo é o que absolutamente não governa". Henry David Thoreau é o responsável pelo meu pedido de impeachment de Dilma Rousseff. O governo dela governou demais. E governo que governa demais acaba tomando um gosto perigoso pelo poder. As recentes delações de Paulo Roberto Costa e de Alberto Youssef confirmam que o governo de Dilma Rousseff não pode continuar. Dilma Rousseff deveria ser afastada no dia seguinte às denúncias.

Tanto Paulo Roberto Costa como Alberto Youssef afirmaram que João Vaccari Neto, tesoureiro nacional do PT, intermediava os desvios de obras da Petrobras para o partido. Afirmaram ainda que as empresas as quais desejavam fechar contratos e serviços com a Petrobras deveriam desembolsar 3% de propina sobre o valor dos contratos: 2% eram destinados ao PT; 1% era fatiado entre o Partido Progressista, Paulo Roberto Costa e Alberto Yousseff. O PT é especialista em propinas. Houve Propinoduto no governo Lula. Agora, há o Propinoduto no governo Dilma.

As informações já seriam um motivo mais do que válido para varrer os petistas do Congresso Nacional. As cifras apenas embasam o pedido de impeachment. A empresa holandesa Trafigura fechou negócios com a Petrobras. Em setembro de 2013, havia um montante de 800.000 dólares acumulado de negociações. Num cálculo rápido, a propina desembolsada por Paulo Roberto Costa, Alberto Youssef e o Partido Progressista estaria em torno de 8.000 dólares. Outra empresa a negociar com a Petrobras foi a Glencore. A revista Época divulgou que, em maio de 2013, foi pago um valor de 9.973,29 dólares a Paulo Roberto Costa. A Polícia Federal identificou depósitos de US$ 4,8 milhões da OAS African Investments Limited na conta da offshore Santa Thereza Services Ltd, controlada por - Epa! - Paulo Roberto Costa. Deixando o investimento furado da refinaria em Pasadena de lado, o caso mais impactante é o do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, o Comperj. Foram fechados dois serviços sem licitações em 2011: um de R$ 3,9 bilhões; outro de R$ 1,9 bilhões. Calculando os 1% de propina para Paulo Roberto Costa e sua turma, chegamos a R$ 58 milhões.

Numa manobra intelectualmente desonesta, o Congresso Nacional pode alegar que Paulo Roberto Costa e seus cúmplices tiveram apenas benefício pessoal e não político. E que Dilma Rousseff nada tem a ver com as denúncias. Pelo contrário: há denúncias de que Paulo Roberto Costa e seus comparsas compravam apoio eleitoral de políticos com o dinheiro adquirido das artimanhas na Petrobras. Dilma Rousseff, então presidente, seria a maior beneficiária do esquema. O PT fornece uma enxurrada de motivos para que sejam privatizados os órgãos do governo. O mensalão do governo Lula teve suas raízes nos Correios. O mensalão de Dilma Rousseff tem início na Petrobras.

O mais grave é que as contas em que Paulo Roberto Costa e seus doleiros recebiam dinheiro não ficavam em Pernambuco ou em Garanhuns. Estavam em Genebra e em Luxemburgo. Os paraísos fiscais são outra marca dos petistas. Márcio Thomaz Bastos é figurinha carimbada em listas as quais divulgam nome de pessoas que guardam seus dinheiros em contas bancárias localizadas em paraísos fiscais. Quem também sempre aparece nessas listas? Lula, José Dirceu, Antonio Palocci e até o finado Luiz Gushiken. A diferença é que Lula e seus apaniguados passaram ilesos. Dilma Rousseff e seus apaniguados não podem passar ilesos. O site de VEJA diz que "o presidente da Câmara dos Deputados decide se o pedido (de impeachment) é arquivado ou encaminhado aos parlamentares". O presidente da Câmara dos Deputados é Henrique Eduardo Alves. Meu pedido de impeachment deve chegar em suas mãos nos próximos dias. Dilma Rousseff sempre se orgulhou por "não ter nomeado um engavetador geral da República". Agora, ela viverá um dilema. Se o pedido for engavetado, ela continua na presidência. Se o pedido for aceito, ela é expulsa, e poderá se orgulhar eternamente por ter se autossabotado. A questão é se o pedido será avaliado a tempo. Ainda faltam dois meses para o ano acabar?

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

A Bolada virtual

Alguns amigos meus estão ostentando o emblema de Dilma Rousseff em suas respectivas fotos de perfil no Facebook. Todos comunistóides. Eu preferia infinitamente o Orkut. Os filhos de Lula frequentavam genuinamente as comunidades do Orkut. Agora, os petistas aparelharam as redes sociais com os chamados fakes integrantes do MAV: Militância em Ambientes Virtuais.

Diferente dos integrantes do MAV, que são remunerados com dinheiro público, meus amigos comunistóides são tão imprestáveis que não recebem um centavo para fazer a militância. O fake Dilma Bolada, por exemplo, tornou-se vitrine de propaganda petista pelas redes sociais. Numa reportagem da revista Época, Jeferson Monteiro, criador do fake Dilma Bolada, havia afirmado que não fazia campanha para Dilma Rousseff pois "não havia chegado a um consenso com os petistas". Logo depois, descobriu-se que o "consenso" poderia ser traduzido por "acerto de cachê". Agora, tudo está resolvido e o fake Dilma Bolada faz religiosamente campanha para Dilma Rousseff todos os dias.

A reportagem de Época também identificou o site Muda Mais como "a arma do PT nas redes sociais". Foi além: afirmou ser "a mais rica e poderosa". O site Muda Mais é de responsabilidade de Franklin Martins. O aluguel do apartamento onde estão hospedados os pelegos que mantêm o site no ar custa 4 000 reais mensais, com exigência de dez meses de adiantamento. Ou seja, o governo já desembolsou 40 000 reais adiantados pelo aluguel. Os números petistas se multiplicam com uma facilidade assustadora. Eu me pergunto: se o aluguel da "mais rica e poderosa arma do PT" custam módicos 4 000 reais, quanto custa a mão-de-obra para manter o site no ar? Quanto recebe Franklin Martins? 40 000? 400 000? 4 000 000?

Precisamente cinquenta e oito amigos meus curtem a página do fake Dilma Bolada no Facebook. Doze deles são comunistóides. Outros doze são Dilma Rousseff até a morte. Um, inexplicavelmente, ostenta o emblema de Aécio Neves no perfil. O resto, são analfabetos políticos. Com a real possibilidade de Dilma Rousseff ser derrotada no segundo turno, os comunistóides, os devotos de Dilma Rousseff e até os analfabetos políticos se renderam à militância virtual em prol dos petistas, ainda que não recebam um tostão furado por isso. Por falar em analfabetismo político, os petistas se invocam quando é constatado o óbvio: que a maior parte dos votos de Dilma Rousseff vem do Nordeste, curiosamente, a região com o maior número de analfabetos no país. A imprensa vem tentando enganar o esclarecido eleitorado nordestino, por meio das delações de Paulo Roberto Costa e de Alberto Youssef, afirmando que o PT assaltou e assalta os cofres públicos. Acertadamente, o brilhante eleitorado nordestino ignora as mentiras publicadas nos jornais e continua fiel aos petistas. Acertadamente, o intelectual eleitorado nordestino só acredita no que é publicado na página do fake Dilma Bolada no Facebook.

Especula-se que o fake Dilma Bolada receba uma quantia razoável pela militância virtual. O título da reportagem de Época é sintomático: Jeferson Monteiro quer faturar R$ 500 mil com sua Dilma Bolada. Recebendo esta bolada, é possível explicar a militância de qualquer pessoa, até dos meus amigos comunistóides e dos analfabetos políticos do Facebook. Espere um pouco: eu disse esta bolada? Devo aplaudir Jeferson Monteiro. Ele foi bem original ao nomear seu personagem.

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Impeachment pela chapa

O programa de Aécio Neves nunca havia se preocupado com o Meio Ambiente. Quem poderá dar este suporte? Sim, ela mesma: Marina Silva. Sim: os dois, lado a lado.

Marina Silva estuda a possibilidade de apoiar Aécio Neves sem ser contraditória com seu discurso de "nova política". Nada mais revolucionário do que acrescentar a "sustentabilidade" no programa de Aécio Neves, que se preocupa com questões bem menos importantes, como a inflação e o baixo crescimento do país. Outra questão relevante é que Aécio Neves tem pouquíssima empatia com os tucanos de São Paulo. Marina Silva, paradoxalmente, seria a agregadora de membros do mesmo partido: ela convenceria José Serra a se dedicar integralmente à campanha de Aécio Neves.

Ao se lembrar de José Serra, lembrei de definir os nomes para a chapa de Aécio Neves. Com o apoio de Marina Silva, é possível fazer este exercício futurístico. Marina Silva seria a ministra do Meio Ambiente. Armínio Fraga já está nomeado como ministro da Fazenda. Nomearia Joaquim Barbosa como ministro da Justiça. José Serra tem histórico de desistências de cargos. Marina Silva poderia fazê-lo desistir do Senado e nomeá-lo como ministro da Saúde. Quem mais? João Doria Jr. no ministério das Comunicações, Bernardinho no ministério dos Esportes, Neca Setubal no ministério da Educação.

Outra vantagem de Marina Silva - aliás, a sua maior vantagem - é que sua imagem não é associada diretamente ao PT, ainda que tenha sido integrante do partido por mais de vinte anos. Todas as marcas do PT, como a corrupção despudorada e o aparelhamento da máquina pública, nunca foram associadas a ela. Marina Silva e Aécio Neves também concordam com o fim da reeleição, estendendo o mandato presidencial a cinco anos. A reeleição foi criada por Fernando Henrique Cardoso. Ele, aliás, está empolgadíssimo com a ideia da chapa entre ambos. Sempre me preocupo quando FHC está empolgado. Em 2006, ele havia se empolgado com a possibilidade de uma espécie de "impeachment pelo voto" a Lula. Agora, ele está coberto de razão: a possibilidade de "impeachment pelo voto" a Dilma Rousseff é bem mais palpável.

Recentemente, Armínio Fraga divulgou o programa de governo de Aécio Neves. Afirmou que pretende fazer uma reforma tributária e implementar uma espécie de IVA Nacional, agregando o ICMS com PIS, Cofins e IPI. Outro aspecto positivo do apoio de Marina Silva a Aécio Neves é o caráter humano o qual ela agrega à chapa. Armínio Fraga e Aécio Neves custam a perceber que o brasileiro não está interessado em bobagens como a responsabilidade fiscal ou o superávit primário. O brasileiro está preocupado se ele está autorizado a ir trabalhar de carro ou de bicicleta.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Continuamos parados

Debate dos candidatos a governador do Rio de Janeiro na Rede Globo. Os quatro principais são: Lindberg Farias, Anthony Garotinho, Marcelo Crivella e Luiz Fernando Pezão. Os petistas classificaram Dilma Rousseff como "um fenômeno", por ter sido a primeira mulher a presidir o Brasil. Dilma Rousseff é um fenômeno por outro motivo. Basta caminhar por um quarteirão no Rio de Janeiro para constatar que ela consegue apoiar, ao mesmo tempo, os quatro principais candidatos a governador.

O debate começa. Muito se fala sobre Habitação. Muito se fala sobre o projeto Minha Casa, Minha Vida, ainda que seja um problema do governo federal. Passo por um conjunto habitacional todos os dias. Fica em Benfica, onde funcionava a antiga Cooperativa Central dos Produtores de Leite, a CCPL. O nome do conjunto habitacional é bem criativo e original: Condomínio Residencial Nova CCPL. Em um dos apartamentos, está escrito em letras garrafais: "Cidadania, pode entrar que a casa é sua". É verdade. Ali, no conjunto habitacional, a cidadania entra. O problema é que a alguns metros dali a cidadania não existe. Existe apenas uma cracolândia, por onde vagam dezenas de viciados em drogas e desabrigados.

Recomendaria aos candidatos não falarem sobre conjuntos habitacionais. A Delegação de Repressão às Ações Criminosas Organizadas da Polícia Civil, a Draco, realiza sistematicamente operações para desarticular milícias que controlam conjuntos habitacionais do Minha Casa, Minha Vida na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Se os candidatos se dispõem a falar sobre os conjuntos habitacionais, deveriam se dispor também a acabar com as milícias que os controlam. Réplicas, tréplicas, e ninguém tocou neste ponto. Mais proveitoso seria discutir por que o Rio de Janeiro sofre com engarrafamentos. Eu sei: é um assunto aborrecido. Eu sei: é um problema da Prefeitura. Eu sei: para os candidatos pouco importa se determinado assunto é de seu alcance ou não.

Sérgio Cabral é citado insistentemente. Atribui-se as manifestações do ano passado a ele. As manifestações tinham como ponto de partida o aumento da passagem, que é um problema do prefeito. Nada tem a ver com Sérgio Cabral. Sim: os candidatos não sabem o que lhes diz respeito ou não. O prefeito Eduardo Paes criou a faixa exclusiva de ônibus. Logo em seguida, ignorou o fato de a faixa ser exclusiva para ônibus e autorizou o tráfego de táxis. A faixa exclusiva de ônibus nos saiu mais caro do que os vinte centavos que desencadearam nas manifestações. Recomendaria que uma nova manifestação fosse feita para acabar com essa bobagem. Deve ser complicado explicar para um turista, por exemplo, que a faixa destinada exclusivamente para ônibus não é usada exclusivamente por ônibus. Mais complicado ainda será explicar que o propósito da faixa exclusiva é fomentar o uso de transporte público, no entanto, Eduardo Paes permitiu o uso de táxis, que de público não têm nada. A faixa exclusiva só atrapalha. Os candidatos deveriam esquecer porcarias como o Minha Casa, Minha Vida e intervir em outras porcarias, como a faixa exclusiva.

No segundo bloco, o debate foi pautado por temas. Foram sorteados: Saúde, Educação, Funcionalismo, Habitação e Olimpíadas. Nada sobre engarrafamento. Nada sobre mobilidade urbana. Continuamos aqui, parados.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Conversa afiada com Paulo Henrique Amorim

Segunda-feira. O programa Bom Dia Brasil, da TV Globo, entrevistou a candidata à reeleição Dilma Rousseff. Paulo Henrique Amorim repercutiu a entrevista em seu blog Conversa Afiada. Deu um título jocoso ao artigo: Mau dia: Dilma tritura a UrubólogaPaulo Henrique Amorim é fissurado por epítetos. O leitor talvez não tenha entendido o título de seu artigo, que é composto por dois gracejos: "Mau dia", em alusão ao programa Bom Dia Brasil; "a Urubóloga" é a jornalista Miriam Leitão, apresentadora do programa.

Se o programa Bom Dia Brasil entrevistou Dilma Rousseff, eu decidi entrevistar Paulo Henrique Amorim. Vasculhei em seu blog, mas não encontrei nenhum telefone por meio do qual eu pudesse entrar em contato diretamente com ele. Encaminhei a entrevista pelo campo "Fale Conosco". Tenho minhas dúvidas se será o próprio Paulo Henrique Amorim quem irá responder as questões. Tenho minhas dúvidas, ainda, se Paulo Henrique Amorim sequer irá respondê-las:

- Boa tarde, sr. Paulo Henrique Amorim. Primeiramente: por que o senhor, em seu blog, é tão fissurado por epítetos?

- Continuando no assunto. Dentre esses epítetos, estão: "Bláblárina Silva", em vez de Marina Silva; "José Cerra", em vez de José Serra; "Dudu", em vez de Eduardo Campos; "Urubóloga", em vez de Miriam Leitão. O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, no Art. 12, inciso III, diz: "O jornalista deve tratar com respeito todas as pessoas mencionadas nas informações que divulgar". O senhor, em seu blog, costuma não tratar com respeito as pessoas mencionadas nas informações que divulga. Eu poderia afirmar que o senhor está infringindo o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros?

- Na lista dos seus "homenageados", há jornalistas, há magistrados, há tucanos e há peessebistas. Curiosamente e/ou coincidentemente, nenhum petista. Por quê?

- A Caixa Econômica Federal patrocina o blog do senhor. O senhor não acha um conflito de interesses muito perigoso quando um órgão do Governo patrocina um blog que aborda política?

- O senhor espalhou pela internet que o ex-colunista de VEJA, Diogo Mainardi, "saiu do Brasil sem lhe pagar o que devia", ainda que o seu processo na Justiça contra ele tenha sido extinto. A propósito disto, o senhor já doou os R$ 30 mil acordados a uma instituição de caridade, após ser condenado na Justiça pela ofensa a Heraldo Pereira?

- O senhor tinha afinidade com Fernando Henrique Cardoso em 1998. Passou a ter afinidade com Lula de 2002 e 2006. Vem mantendo uma afinidade com Dilma Rousseff desde 2010. Numa eventual vitória de Marina Silva, podemos esperar uma aproximação entre ambos já a partir de 2015?

- Em seu blog, existe a categoria "PiG": Partido da Imprensa Golpista. O senhor considera golpistas: a TV Globo, o jornal O Globo, o jornal Folha de S. Paulo, entre outros veículos de comunicação. O jornalista Demétrio Magnoli publicou uma coluna citando textos de Mino Carta durante o Regime Militar, nos quais Mino Carta assistia com bons olhos à ação dos militares à época. Por que o senhor não considera a Revista Carta Capital, de Mino Carta, como um veículo golpista?

- Foi um grande prazer entrevistá-lo. A próxima entrevista com o senhor poderá ser pessoalmente?

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

A nossa nova política

Ontem, assisti ao Horário Eleitoral pela primeira vez desde 2002. A mesma aporrinhação de sempre. Em 2002, eu tinha 10 anos. Não é a melhor idade para começar a acompanhar política, se é que existe idade. Àquela época, julgava Ciro Gomes um sujeito culto. Lula, invariavelmente, arrancava um sorriso meu. O Governo de Anthony Garotinho no Rio de Janeiro, anos antes, não me permitia levar sua campanha presidencial a sério. Só não me lembro se confundia Ciro Gomes com Lula.

Meu olhar sempre foi direcionado exclusivamente ao Governo Federal. Nutria um desprezo absoluto pelos cargos menores. Cesar Maia era prefeito do Rio de Janeiro? Nunca me interessei pelo que ele falava. Leonel Brizola disputava vaga no Senado? Nunca tentei interpretar seus sofismas. Luiz Paulo Conde era vice-governador na chapa de Rosinha Matheus? Não consigo me lembrar de nenhum engodo eleitoreiro formulado por ele nos comícios aos quais minha mãe me levava.

Em contrapartida, tenho em mente todas as colocações de Ciro Gomes, Anthony Garotinho e Lula, à época. Ciro Gomes sempre bateu no próprio peito, afirmando ser uma alternativa nova, pois nunca havia misturado política com seus interesses e suas relações pessoais. Anthony Garotinho foi o criador dos polígonos de segurança no Rio de Janeiro, projeto no qual tendas da Polícia Militar, com algumas viaturas vagabundas, eram responsáveis pela segurança da população. Lula enxergava todos os programas sociais como "uma espécie de compra de voto pelo estômago", também pretendia acabar com o Plano Real, além de falar sistematicamente em reforma agrária.

Poderia jurar que todas as posições de Ciro Gomes, Anthony Garotinho e Lula, há doze anos, seriam mantidas ontem. Sintonizei no Horário Eleitoral justamente para vê-los repetindo a ladainha de sempre e debochar de cada um deles. É uma pena que todos tenham desistido das próprias ideias. Lula, ao virar presidente, manteve tudo aquilo que era contra: todos os programas sociais, o Plano Real e o sistema agrário. Uma das principais propostas de Anthony Garotinho, atualmente, é contra o projeto das UPPs no Rio de Janeiro, ainda que o projeto das UPPs seja uma extensão um pouco menos vagabunda de seu antigo polígono de segurança. Um ano após perder as eleições presidenciais de 2002, Ciro Gomes desistiu da história de "nova política" e loteou o Ministério da Integração com seus familiares e seus apadrinhados.

O Brasil perdeu Ciro Gomes e pode ganhar Marina Silva. Desconfio que perder e ganhar não sejam os verbos corretos. Mas o fato é que Marina Silva se apresenta como a alternativa para ingressarmos na "nova política" da mesma forma que Ciro Gomes se apresentava em 2002. É um tanto estranho que nossa alternativa da "nova política" tenha participado de sua primeira eleição em 1986. É um tantinho mais estranho que nossa alternativa da "nova política" tenha sido uma das fundadoras do PT na década de 1980. O marqueteiro de Marina Silva é Diego Brandy. Ele deveria aconselhá-la a desistir dessa história de nova alternativa política. O Brasil já demonstrou diversas vezes que não dá certo com esse negócio. Outra recomendação é se abster de tentar criar a imagem de Marina Silva como um "Lula de saias". Lula é um político vagabundo como qualquer outro, capaz de prometer uma coisa hoje e fazer outra amanhã. Marina Silva precisa tentar - veja bem: tentar - se apresentar como uma política séria. Desvinculando-se da imagem de "Lula de saias", ela desvincula-se da imagem de um político vagabundo como qualquer outro.

Amanhã, voltarei a assistir ao Horário Eleitoral. Desligarei a TV imediatamente, caso nada tenha mudado na propaganda de Marina Silva. E não farei questão alguma de vê-la novamente pelos próximos doze anos.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Sair é sempre um bom negócio

Obrigaram-me a escrever sobre um tema. Onde? Na faculdade. Como opção, eu tinha: "violência"; "ser idoso no Brasil"; "segurança"; "meninos na rua"; "estudar fora do país"; "novo acordo ortográfico". Creio que os assuntos estão interligados, e, como o Brasil é deficitário em todos os pontos, não haveria escolha melhor, a não ser sair do país.

Sair do Brasil é sempre um bom negócio. Seja na questão financeira: nossa moeda tem menos valor em relação a todas as mais importantes do mercado. Seja em repercussão: o que acontece na América do Sul não tem reflexo algum mundo afora. Paulo Coelho saiu do Brasil e se tornou o escritor mais lido e conhecido do país. Se continuasse no Brasil, venderia menos livros do que o bispo Edir Macedo.

O brasileiro mais ufanista argumentará que muitos estrangeiros vislumbram morar no Brasil. Tratarei de fazer o antimarketing brasileiro. Os estrangeiros pretendem vir ao Brasil por conta das praias? Espanha e Itália têm praias belíssimas. Eles apreciam a música brasileira? Os Estados Unidos dominam o cenário musical no mundo. As mulheres brasileiras são fetiche? A atual vencedora do concurso Miss Universo é da Venezuela. Eles ainda se entusiasmam com o futebol brasileiro? Mesmo depois dos sete a um da Alemanha?!

Estar fora do Brasil, inegavelmente, também é sempre um bom negócio. Os cubanos que o digam. O Governo de Dilma Rousseff gastou aproximadamente 1 bilhão de dólares construindo portos em Cuba, além de exportar mão-de-obra cubana, desprezando os médicos brasileiros. Ignoro que Cuba seja um descalabro em matéria de liberdade de expressão e não tenha acesso ao papel higiênico e ao sabonete. Se o Brasil vive um estado de calamidade na saúde - e ele vive -, não há escolha melhor: saia do país e vá para Cuba!

Aliás, sair do Brasil é tão bom negócio, que acabei me perdendo no tema a ser abordado. O foco do texto é estudar fora do país. E as razões são óbvias para tal. Caso você cubra os olhos e escolha, aleatoriamente, um país no Globo Terrestre, este país terá a educação melhor do que a nossa. É um motivo para sair do país tão válido como qualquer outro. Se por um acaso este país não tiver a educação melhor do que a nossa, fatalmente ele será menos violento do que nós. Dificilmente se encontra um país que apresente, de forma simultânea, uma educação e uma segurança piores do que as nossas.

Sim: os meus motivos para sair do Brasil são mesquinhos. Sim: assim como os meus motivos, o Brasil é um país igualmente mesquinho. Sair é sempre um bom negócio. Ainda que você seja um Paulo Coelho ou um bispo Edir Macedo. Ainda que o destino seja Cuba.

sábado, 6 de setembro de 2014

Infelizmente, moro no Rio de Janeiro


Moro no Rio de Janeiro. Justamente por morar no Rio de Janeiro, estou escandalizado com o ranking nacional do ensino médio da rede estadual em 2013, divulgado nesta semana, baseado no Índice de Desenvolvimento de Educação Básica, o Ideb. O Rio de Janeiro subiu onze posições, chegando à terceira colocação, atrás apenas do estado de Goiás, em primeiro, e São Paulo e Rio Grande do Sul, empatados, em segundo.

Confesso que tenho uma certa dificuldade para compreender os números do Ideb. Em 2012, o Rio de Janeiro não tinha sequer uma escola entre as cem primeiras colocadas no Enem. Um ano depois, passou a ter a terceira melhor rede de ensino médio do país. Ainda em 2012, ao contrário do Rio de Janeiro, Minas Gerais registrou quatro escolas entre as dez primeiras colocadas no Enem. Agora, ambos os estados registraram a mesma nota no ranking do Ideb. Aliás, os números do Ideb apontam que a Educação do Rio de Janeiro se encontra em plena ascensão, enquanto Minas Gerais está em iminente queda. No espaço de um ano, o Rio de Janeiro de Sérgio Cabral virou exemplo de Educação e Minas Gerais de Antônio Anastasia apresentou um quadro decadente.

O Ministério da Educação havia estabelecido como meta a nota 3,3 para o ano de 2013. O Rio de Janeiro ficou com 3,6. Nenhuma notícia poderia ser pior para quem mora no Rio de Janeiro. Em 2013, o número de roubos de rua registrados na polícia do Rio de Janeiro foi de 72.451. Foram 4.761 homicídios dolosos, 146 latrocínios, 6.004 pessoas desaparecidas, 5.926 estupros e 7.222 apreensões de adolescentes. Mas nada pode ser mais danoso do que a ascensão da Educação do Rio de Janeiro. Ela atenua todos os outros problemas. Ela camufla todas as nossas deficiências.

O ministro da Educação, Henrique Paim, afirmou que o Ideb "coloca em xeque a gestão dos estados e municípios". Entendo exatamente o contrário. Entendo que o Ideb não apenas superestima a rede estadual de ensino dos estados, como também entrega de bandeja um grande panfleto eleitoreiro, às vésperas de uma eleição. O brasileiro - especialmente, o carioca - não liga se a Educação de um determinado estado está caindo. O brasileiro - especialmente, o carioca - cria um clima de oba-oba quando se depara com a ascensão da Educação. Ela é tratada como selo de qualidade de um determinado governo.

O ranking do Ideb ainda registrou que a nota de dezesseis redes públicas caíram. Curiosamente, os dezesseis estados irão manter seus governadores ou seus aliados no poder. O Rio de Janeiro, um dos nove estados cuja nota não caiu, caminha para uma mudança, com Anthony Garotinho favorito nas pesquisas. Invejo os outros dezesseis estados. Eles comprovam que a queda no ranking do Ideb lhes garante uma perspectiva de melhora para o futuro. Eles comprovam que caminhar na contramão do Rio de Janeiro é sempre um bom negócio.

Após a divulgação do ranking do Ideb, passei a ficar preocupadíssimo com a perspectiva de melhor para o futuro. A aparente ascensão da Educação do Rio de Janeiro é ruim para todos. Dormiria mais tranquilo caso tivéssemos a consciência de que o ensino dado aqui é uma porcaria. Que o ensino é ineficaz. Que o ensino precisa de uma melhora urgentemente. Teria motivos para permanecer aqui com uma relativa tranquilidade por trinta, quarenta anos. Mas, infelizmente, moro no Rio de Janeiro.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

O aspecto da imagem


Samuel Beckett era um minimalista. Sou como Samuel Beckett. Sou um minimalista profissional. Como sou um minimalista profissional, minimalizarei a minha análise dos principais candidatos à presidência da República após o primeiro debate. Minimalizarei a minha análise através do aspecto da imagem. O aspecto da imagem será o meu critério para identificar se um candidato é bom ou ruim. Se é confiável ou desconfiável.

A tarefa de analisar Aécio Neves, Dilma Rousseff e Marina Silva através da imagem é das mais simples. Eles não têm muito a oferecer. Eles são exatamente como o minimalismo se apresenta pela música clássica: repetitivo, estático, em ritmos quase hipnóticos. Dos três candidatos, Aécio Neves é o mais inteligível. É o que tem a fala mais clara. Inclusive, o que tem mais currículo, ainda que os brasileiros ignorem a experiência profissional no meio político. Mas Aécio Neves fica estático, como uma música clássica, ao ser perguntado a respeito do Bolsa Família. Nenhuma ideia lhe surge. Falta-lhe coragem para enfrentar o programa social e afirmá-lo como um populismo eleitoreiro explorado pelos petistas.

Dilma Rousseff tem uma oratória pausada, em ritmo quase hipnótico, com segundos intermináveis entre uma fala e outra, que evidenciam sua dificuldade de juntar as ideias. Os analistas das obras de Samuel Beckett tinham uma enorme dificuldade para interpretá-las. Dilma Rousseff é exatamente como as obras de Samuel Beckett: seus analistas têm uma enorme dificuldade para interpretá-la. Já Marina Silva, é repetitiva e mantém uma mansidão em sua fala. Analisei sua imagem e cheguei à conclusão que ela nos provoca o mesmo sentimento que Lula. Marina Silva nos desperta uma frouxidão misericordiosa por meio da sua fisionomia, que tem um aspecto genuinamente frágil. Ela suscita nosso piedosismo. Ela aflora a característica mais danosa da cultura nacional.

Durante anos, editoras se recusavam a publicar as obras de Samuel Beckett por considerá-las vazias e cansativas. Os três principais candidatos à presidência da República são exatamente como as obras de Samuel Beckett: vazios e cansativos. Melhor seria analisar Levy Fidelix. É uma pena que ele não tenha alcançado sequer 1% das intenções de votos. O Brasil precisa aproveitar sua visão sobre violência, sobre finanças, sobre investimentos, sobre contrabando. Levy Fidelix constatou o que os três principais candidatos não foram capazes de constatar, e, se constataram, não criaram coragem para falar: que as prisões devem ser privatizadas, que a maioridade penal deve ser reduzida a dezesseis anos, que o PT quadruplicou a dívida pública, que a vulnerabilidade de nossas fronteiras permite o contrabando de armas vindo de países vizinhos.

As obras minimalistas de Samuel Beckett nunca exploraram a ideologia do autor. Assim como uma obra de Samuel Beckett, o Brasil é um país minimalizado. Assim como uma obra de Samuel Beckett, o Brasil não explora a ideologia de nossos políticos. Os brasileiros são exatamente como nossos principais candidatos à presidência da República: covardes, com dificuldades para juntar as ideias e excessivamente piedosos. Os brasileiros são exatamente como uma música clássica: repetitivos e estáticos.

E eu? Continuarei caminhando, num ritmo quase hipnótico, a fim de encontrar um candidato à presidência da República que pretenda acabar com o assistencialismo do Bolsa Família nas campanhas eleitorais.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O asterisco na Biografia

Um funcionário do Banco Santander foi demitido, após mandar uma carta aos clientes constatando o óbvio: o quadro da economia piora com Dilma Rousseff na presidência. Ao ler a notícia, fui conferir no Wikipedia se o presidente da República havia mudado e se havíamos entrado numa ditadura da noite para o dia. Sim: o Wikipedia é a minha fonte de informação. Não: não entramos numa ditadura da noite para o dia e Dilma Rousseff continuava como presidente da República.

Sempre julguei que os petistas topavam qualquer parada, menos associar a imagem do partido à da censura. É inimaginável, nos dias de hoje, uma pessoa ser demitida porque emitiu uma opinião contrária à de outra. Só consigo imaginar uma situação dessa nos tempos da Ditadura Getulista ou no período do general Médici. No entanto, quando eu me atrevo mais uma vez a duvidar do caráter moral de um petista, sou surpreendido.

O nome do funcionário demitido não foi divulgado. Mas o nome do responsável por sua demissão foi repetido exaustivamente: Lula. Há de se concordar que a pressão pela demissão foi muito bem conduzida. Na segunda-feira, Lula pediu a cabeça do funcionário. Na terça-feira, ele estava demitido. Defendendo a tese de que o funcionário se equivocou ao emitir a carta para os clientes, Lula afirmou que o Banco Santander lucra mais no Brasil do que em lugares como Nova York, Londres, Paris e Madri. Ignoro se os números de Lula estão corretos ou não. A discussão é outra. Lula passou toda a sua carreira política afirmando que seu compromisso era governar para as classes mais pobres e não para os banqueiros. Agora, ele comprovou tudo. Comprovou sua falta de moralidade e comprovou para quem ele sempre governou.

Os petistas ficaram horrorizados com a carta do funcionário. Rui Falcão, presidente do PT, classificou-a como "terrorismo eleitoral". Dilma Rousseff afirmou: "É lamentável, é inadmissível, um país não deve aceitar uma interferência de qualquer instituição". A lógica petista permite que o banqueiro Daniel Dantas doe R$ 1.500.000,00 para o partido. Mas o Banco Santander não pode emitir um comunicado visando a alternativa mais rentável para o seu cliente. Isso ultrapassa os valores éticos do partido.

Se os petistas consideraram a carta do funcionário uma afronta ao Governo Dilma, eu considerei a demissão do funcionário uma afronta à democracia. Se a imagem do Governo Lula sempre será marcada pela quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo, a imagem do Governo Dilma sempre será marcada pela demissão do funcionário do Banco Santander. Ainda que os brasileiros esqueçam daqui a vinte anos, eu farei questão de lembrá-los.

Agora, terminado o texto, vou conferir no Wikipedia se já foi divulgado o nome do funcionário. E se acrescentaram esse asterisco à Biografia de Dilma Rousseff.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Resenha: O mercado de notícias, de Jorge Furtado

Vinte e um de Agosto. Botafogo. Fui assistir ao documentário O mercado de notícias. No cinema, aproximadamente vinte e cinco pessoas. O local: Espaço Itaú de Cinema. A companhia é irrelevante.

O documentário transcorre intercaladamente a uma representação burlesca da peça The Staple of News, de 1625, escrita por Ben Jonson, o grande rival de William Shakespeare nos palcos londrinos. O diretor de O mercado de notícias é Jorge Furtado. No longa-metragem, debate-se a apuração jornalística, a parcialidade – ou imparcialidade – da notícia e o papel do jornalista na sociedade.

Sempre me incomodo quando alguém se põe a comentar sobre a atividade do jornalista, mesmo que este desconheça a realidade de um trabalho jornalístico. Ainda que tenha estudado jornalismo em algum momento da sua vida, Jorge Furtado faz parte dessa turma que se mete a comentar sobre a profissão sem conhecimento de causa. A partir do momento em que Jorge Furtado se propõe a questionar a forma como se faz jornalismo, ele me dá o direito de poder questionar a forma como se faz cinema no Brasil. Eu pergunto: Por que financiamento público para filmes? Eu continuo: Alguém já fez uma pesquisa para saber se o brasileiro quer ter o seu dinheiro gasto em produção nacional? Eu investigo: Será que o boicote a Fernando Collor de Mello também tem a ver com o corte de financiamento público feito às produções brasileiras à época?

Para atenuar a sua falta de conhecimento sobre o trabalho de um jornalista, Jorge Furtado cercou-se, obviamente, de jornalistas. Em O mercado de notícias, precisamente treze jornalistas foram entrevistados e comentaram, basicamente, sobre a política do jornalismo e política no jornalismo. Foram entrevistados: Bob Fernandes, Cristina Lôbo, Fernando Rodrigues, Geneton Moraes Neto, Jânio de Freitas, José Roberto de Toledo, Leandro Fortes, Luis Nassif, Maurício Dias, Mino Carta, Paulo Moreira Leite, Raimundo Pereira e Renata Lo Prete. Quanto ao fato de treze jornalistas – um número emblemático na política – serem entrevistados, é uma mera coincidência.

A ousadia de Jorge Furtado foi tanta que eu fiquei desassossegado na poltrona. Além de questionar a forma como se faz cinema no Brasil, passei a questionar os jornalistas que foram selecionados para o documentário. Sigo os questionamentos: Por que Paulo Moreira Leite foi escolhido? Por que Janio de Freitas e Mino Carta estão lá? Quem é Maurício Dias? – juro, eu não o conhecia.

Aliás, o documentário me submeteu a uma busca incessante atrás de informações dos entrevistados os quais eu não conhecia. Seguindo a ordem alfabética, o primeiro foi Bob Fernandes. É um dos fundadores da Revista Carta Capital. Atualmente, é editor-chefe do site Terra Magazine e comenta política na TV Gazeta. Além de ser coautor do livro Bora Bahêea! A História do Bahia Contada Por Quem a Viveu, da Coleção Camisa 13 – Epa! Olhem o treze de novo!

Como Bob Fernandes, Mino Carta, outro entrevistado no documentário, também é um dos fundadores da Revista Carta Capital. Luis Nassif e Maurício Dias são colunistas, também da Revista Carta Capital. Nota-se que a diversidade e a imparcialidade na escolha dos entrevistados também foram mera coincidência.

Li algumas entrevistas de Jorge Furtado. Aliás, algumas não. Li minuciosamente quatro entrevistas de Jorge Furtado: uma no portal UOL; uma na Revista Fórum; outra em O Globo; a última, em Folha de S. Paulo. Em todas as entrevistas, ele conta as razões pelas quais decidiu fazer o documentário, atribuindo a si a responsabilidade de expor os tropeços da imprensa e questionar a qualidade da informação no país. Penso que já seja pretensioso e perigoso demais colocarmos nas mãos de Alberto Dines a incumbência de "observar a imprensa", como ele mesmo propõe. Jorge Furtado é muito mais pretensioso e perigoso do que Alberto Dines. Quando ele se propõe a contestar a imprensa nas telas de cinema, lá estão sendo gastos o meu e o seu dinheiro, sem a nossa permissão.

A tarefa de Jorge Furtado não seria das mais fáceis. O simples fato de traçar um paralelo com The Staple of News o obrigava a tratar de assuntos que a peça de Ben Jonson abordara, como o financiamento de veículos de imprensa e a ética profissional, por exemplo. A abordagem de Jorge Furtado em relação a essas questões foi paupérrima. Foi preciso pinçar declarações isoladas de José Roberto de Toledo e de Fernando Rodrigues, em raros momentos de lucidez do documentário.

José Roberto de Toledo disse: "Quando se tem um banner de uma estatal em um veículo de imprensa, há um problema."

Fernando Rodrigues disse: "O governo gasta, aproximadamente, 1 bilhão e 500 milhões de reais em publicidade e propaganda. E ainda tem sempre aquela discussão, se tem que dar mais pra um veículo e menos pra outro. Não tem que dar pra ninguém!"

José Roberto de Toledo e Fernando Rodrigues estão corretíssimos. A partir do momento em que determinado jornalista ostenta o anúncio da Caixa Econômica Federal em seu Blog, ganhando o meu e o seu dinheiro, causa-me um frio na barriga. Paulo Moreira Leite discorda disso tudo. Justificando o gasto exorbitante de dinheiro público em publicidade e propaganda em veículos de imprensa, ele lembra que "governos anteriores também gastavam e a imprensa não se preocupava desse jeito". A partir desse engodo, Paulo Moreira Leite propõe que os jornalistas – que, segundo ele, se calavam com os governos anteriores – se calem agora. O sofisma de Paulo Moreira Leite recomenda uma estagnação da imprensa.

A discussão do tema poderia ser mais ampla. No entanto, Jorge Furtado, ignorando questões relevantes e que dizem respeito ao meu e ao seu dinheiro, perdeu preciosos minutos tentando provar por a+b que, durante a campanha presidencial de 2010, José Serra forjou ter sido agredido por uma bolinha de papel. São mostradas imagens de um segurança de José Serra em direção a ele e, em dado momento, a bolinha surge da direção do segurança. Em nenhum momento aparece, claramente, o segurança jogando a bolinha de papel. Simplesmente achismo. Simplesmente especulação. E, então, uma questão importante é levantada: quanto de certeza o jornalista precisa ter para se noticiar algo? Renata Lo Prete, sem titubear, respondeu: "Em princípio, 100%. Mas não é o que acontece". Obviamente, Renata Lo Prete está correta. E o próprio documentário de Jorge Furtado comprova a tese. Se o jornalista precisa de 100% de certeza para noticiar algo, o caso de José Serra e seu segurança jamais seria mencionado no documentário, pois não há 100% de certeza de que foi o segurança quem jogou a bolinha de papel.

Ao se atentar ao caso simplório de José Serra, Jorge Furtado me frustrou. Se eu estivesse ostentando um pacote de pipoca na sala do cinema, jogaria para o alto. A oportunidade era muito boa para ele aprofundar o tema. A pergunta era muito boa. Inclusive, cito-a novamente. Cito-a incansavelmente: quanto de certeza o jornalista precisa ter para se noticiar algo?

Inúmeros casos poderiam ser debatidos. Cito um: o goleiro Bruno, ex-Flamengo, foi incriminado porque, através de algumas evidências e provas subjetivas, chegou-se à conclusão de que ele foi o responsável pela morte de Eliza Samúdio. Nenhuma prova concreta. Estou longe de ser defensor do goleiro Bruno. Nem flamenguista eu sou – eles costumam defendê-lo. Mas, antes do julgamento, Bruno virou manchete em todas as capas de jornais de circulação do país. E, apenas depois, foi julgado e veio sua condenação. É discutível dizer se ele foi ou não o responsável. Obviamente, o jornal noticia aquilo que quiser. Faz parte da liberdade de expressão. Mas deve estar disposto a arcar com as consequências que isso pode lhe causar.

Há um dado muito importante, que pouca gente leva em consideração, e deveria ser um divisor de águas no modo como se faz jornalismo e o modo com que se passa a informação. Uma pesquisa da Unesco, em Janeiro deste ano, apontou que o Brasil é o oitavo colocado no ranking dos países com maior número de analfabetos adultos. Outro dado da própria Unesco revela que, dos 36 milhões de adultos analfabetos na América Latina, 38,5% são brasileiros. Os jornais brasileiros deveriam entender para quem estão noticiando e como os brasileiros recebem uma notícia. O simples fato de se estampar na capa de jornal "Goleiro Bruno é acusado de matar Eliza Samúdio" induz um país, que ostenta 38,5% de adultos analfabetos da América Latina, a crer que o goleiro Bruno é o culpado. A partir do momento em que se tem esses números assustadores de analfabetismo, a interpretação de texto por parte do leitor está absolutamente comprometida. O jornal precisa ter o máximo de cuidado para não confundir especulação com fato e vice-versa.

A sala de cinema na qual assisti ao documentário O mercado de notícias estava composta, aparentemente, pelo leitor médio. Creio que ali não havia os adultos analfabetos citados na estatística da Unesco. No entanto, quando foi apresentado o caso de José Serra, onde as suposições apontavam para uma teórica manipulação por parte do segurança, muitos riram, como se, de fato, fosse forjado. A própria abordagem do documentário induz o espectador a crer que foi o segurança de José Serra quem jogou a bolinha de papel. Repito: é simplesmente achismo, é simplesmente especulação.

Se Jorge Furtado pode se aventurar a exibir achismos e especulações despropositadas, eu me aventuro também. Talvez, o fato de José Serra ser do PSDB implique diretamente com o olhar fixo de Jorge Furtado para o tema, ignorando o caso do goleiro Bruno. Jorge Furtado, até por ser gaúcho, é o marqueteiro preferido do PT no Sul. Jorge Furtado, que dirigiu a campanha de Tarso Genro, do PT, à prefeitura de Porto Alegre. Jorge Furtado, que dirigiu a campanha de Olívio Dutra, do PT, ao governo do estado do Rio Grande do Sul. Longe de mim ventilar a hipótese de Jorge Furtado ter se apropriado de seu documentário para fazer proselitismo político e denegrir a imagem de José Serra. De minha parte, também se propagam apenas achismos e especulações.

Bolinha de papel à parte, eu me divertia verdadeiramente quando Mino Carta aparecia no documentário para comentar algo. Perguntado sobre a independência do jornalista, Mino Carta afirmou que há fatos excepcionais que impedem a imprensa de publicar algo na capa do jornal. Lembro-me de um fato excepcional, que impediu Mino Carta de publicar algo na capa de sua revista, a Revista Carta Capital. Na semana em que o Supremo Tribunal Federal decretou a prisão dos mensaleiros José Dirceu, Delúbio Soares e José Genoíno, a capa da Revista Carta Capital abordava a extinção das pererecas: "Os cientistas ainda temem uma extinção em massa provocada pela ação humana. Mas há uma boa notícia: cai o ritmo de desaparecimento de espécies".

Renata Lo Prete defende que o jornalista deve dizer de qual lado está: "O fato de se dizer qual é o seu lado, é o melhor caminho para que o consumidor verifique se a notícia está manipulada ou não". Podem acusar Mino Carta de petista. Podem, ainda, dizer que a Revista Carta Capital, de Mino Carta, ignorou o maior julgamento do Supremo Tribunal Federal. Mas não se pode negar a autenticidade de Mino Carta. Ele nos demonstra, religiosamente, a cada tiragem da Revista Carta Capital, de qual lado ele está.

Como sou demasiadamente curioso, fui pesquisar quais são os patrocinadores da Revista Carta Capital. E – Epa! – me deparei com anúncio de uma estatal. José Roberto de Toledo e Fernando Rodrigues devem se horrorizar com isso. Imediatamente, cocei o meu bolso. E, em seguida, minha inocência constatou, somente a partir do que disse Renata Lo Prete, que a notícia, sim, está manipulada na Revista Carta Capital.

Outra intervenção de Mino Carta me divertiu. Quando ele, categoricamente, afirmou: "Os Barões Midiáticos acreditam que liberdade de imprensa é poder dizer aquilo que eles bem entendem, sendo verdade factual ou não". Por um momento, concordei com Mino Carta. Estranhei. E logo me dei conta de que Mino Carta, sendo dono da Revista Carta Capital, faz parte do grupo seleto de Barões Midiáticos da grande imprensa. Sendo Mino Carta um Barão Midiático e seguindo a linha de raciocínio do próprio Mino Carta, pode se afirmar que ele acredita que liberdade de imprensa é poder dizer aquilo que ele bem entende, sendo verdade factual ou não.

Mais divertido do que Mino Carta só Maurício Dias. Realmente, eu não o conhecia. E trato de fazer um mea-culpa por isso. Se políticos têm a capacidade de persuadir eleitores através de projetos sociais com viés populista, Maurício Dias tem o dom de engabelar leitores e espectadores com opiniões – também! – de viés populista. Nem Juca Kfouri consegue desbancá-lo.

Ignoro o que Cristina Lôbo e Jânio de Freitas disseram no documentário. Ignoro, igualmente, o que disseram Geneton Moraes Neto e Raimundo Pereira. Dedicarei este espaço final a analisar meticulosamente as palavras de Maurício Dias.

Maurício Dias disse: "Tudo piorou (na imprensa) a partir da ascensão do Lula. Ele não é parceiro da elite brasileira."

A partir da frase de Maurício Dias, deduz-se que a postura da imprensa caminha de acordo com o gosto da elite brasileira. Se a elite brasileira não gosta de Lula, a imprensa deve achincalhá-lo. Se a elite brasileira gosta de Lula, devemos ignorar os inúmeros e despudorados casos de corrupção de seu governo.

Ainda que por linhas tortas, Maurício Dias acertou. A imprensa, de fato, piorou com Lula. Com seu populismo rasteiro, Lula dividiu o país: os brasileiros e os antibrasileiros; os progressistas e os reacionários. A divisão foi premeditada. Através disso, Lula jogou a população contra a imprensa. Ele, Lula, seria o defensor do povo – povo leia-se: pobres. Já a imprensa, defenderia o interesse da elite. Que Lula pense assim não há o menor problema. Ele não me afeta. O problema é quando isso ganha eco na própria imprensa, a partir de jornalistas como Maurício Dias.

Devo ser justo. Não foi apenas Maurício Dias quem acertou, ainda que acidentalmente. Numa determinada passagem do documentário, Jorge Furtado afirma que Os Sertões, de Euclides da Cunha, "é o livro de não-ficção mais importante da história do Brasil". É duro concordar com Jorge Furtado. Mas ele está correto. No livro, Euclides da Cunha caracterizou os seguidores de Antônio Conselheiro como "uma gente ínfima e suspeita, avessa ao trabalho, vezada à mandria e à rapina". Na verdade, Euclides da Cunha estava caracterizando o nosso caráter nacional, que Jorge Furtado comprovou, ao analisar a bolinha de papel em José Serra, e que Mino Carta ratificou, ao se preocupar com a extinção das pererecas. A partir do momento em que Jorge Furtado citou Os Sertões, eu passei a tratar o documentário O mercado de notícias como um estudo sócio-antropológico.

Euclides da Cunha também disse que os seguidores de Antônio Conselheiro tinham uma série de "atributos que impediam a vida num meio mais adiantado e complexo". Euclides da Cunha apenas antecipou o que a Unesco sacramentou no início deste ano: que somos o oitavo colocado no ranking dos países com maior número de adultos analfabetos, que somos um país repleto de seguidores de Antônio Conselheiro e que somos incapazes de viver num meio mais adiantado e complexo.

Fim. Fecham-se as cortinas. É hora do ínfimo e suspeito Romário, que é avesso ao trabalho e acostumado à mandria, sair de cena.

sábado, 23 de agosto de 2014

Aécio vence no segundo turno‏

Candidato à presidência, o pastor Everaldo concedeu a melhor entrevista dos últimos quinze anos, na última terça-feira, no Jornal Nacional. Nem Romeu Tuma Júnior, no Roda Viva, conseguiu superá-lo. O pastor Everaldo disse: o governo do PT aparelhou o Estado. Ele disse: eu nunca precisei do Estado para vencer na vida. Ele disse: o governo do PT agravou a presença do Estado na economia. Ele disse mais: eu defendo um Estado mínimo, a começar pela exclusão de dezenove ministérios. Ele ainda disse: eu vou privatizar a Petrobras.

Privatizar a Petrobras é a nossa prioridade. Deveria encabeçar a plataforma de governo de qualquer candidato à presidência. Nos últimos anos, nada faz doer mais o nosso bolso do que a Petrobras. Nem o cinema nacional custa tão caro. Nem a nova reforma ortográfica. Nem os portos que o PT financiou em Cuba. Nem o repasse de dinheiro público para partidos financiarem suas campanhas. Nem a propaganda estatal nos blogs de jornalistas comprados pelo PT.

Marina Silva é outra candidata à presidência. Procurei reportagens sobre sua posição a respeito da Petrobras. Não se encontra nenhuma declaração. Marina Silva já falou sobre futuro: "Esse Brasil não pode ser adiado para amanhã". Já falou sobre drogas: "Nunca fumei maconha, bebi álcool ou usei daime, só Biotônico Fontoura". Já falou sobre desmatamento: "A Floresta Amazônica não pode entrar na Justiça contra os desmatadores, nós é que temos de fazer isso". Já refletiu sobre a vida: "Eu aprendi, através das novelas, a falar a palavra colher". Nada sobre a Petrobras. Até por isso, suas aspirações à presidência não assustam. Quinze minutos de entrevista do pastor Everaldo ao Jornal Nacional valem mais do que toda a biografia de Marina Silva.

O leitor mais atento se deu conta de que sequer mencionei o nome de Aécio Neves até então. Isso mesmo. Ele não precisa aparecer muito e, a princípio, não precisa falar absolutamente nada. A última pesquisa do Datafolha apontou Aécio Neves com 20% de intenção de votos e Dilma Rousseff com 36%. Para ultrapassá-la, basta que ele não diga bobagens em seu programa eleitoral e, em seguida, coloque Dilma Rousseff contra a parede nos debates. O pastor Everaldo mostrou o caminho da luz. Aécio Neves precisa fazer apenas a seguinte pergunta:

Candidata Dilma Rousseff, tendo em vista os escândalos de corrupção na Petrobras e os últimos investimentos catastróficos, a exemplo da refinaria em Pasadena, onde foram gastos US$ 360 milhões em vão, não seria mais inteligente da sua parte privatizar a Petrobras, a fim, tanto de diminuir os gastos públicos, como de aliviar o bolso dos brasileiros?

Se Dilma Rousseff negar a privatização da Petrobras, perderá votos, pois estará brigando com os fatos apresentados. Se Dilma Rousseff concordar com a privatização, perderá votos, pois estará assinando o seu atestado de incompetência. Além do mais, tendo em vista que os eleitores de Marina Silva rejeitam Dilma Rousseff assim como Dilma Rousseff rejeita a lógica com as palavras, todos migrarão para Aécio Neves.

Pronto. Aécio Neves vence no segundo turno. Derrubaremos o PT. Será a hora de virarmos a página. Logo após a vitória de Aécio Neves, será a vez de derrubarmos o PSDB.